Petrópolis: imagem de Nossa Senhora das Graças, intacta após deslizamentos, vira símbolo de fé na tragédia

Moradores encontram força e esperança em histórias de fé registradas na cidade pós-tragédia, que matou 152 pessoas e deixou outras centenas desabrigadas

Imagem de Nossa Senhora das Graças, intacta após deslizamentos, vira símbolo de fé Foto: Rafael Nascimento de Souza

O Globo / Rafael Nascimento de Souza

RIO — No sexto dia de buscas aos desaparecidos da tragédia da Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio, uma cena chama a atenção em meio ao trabalho de bombeiros e a circulação de máquinas pesadas que reviram os escombros em busca de sobreviventes no BNH (Banco Nacional da Habitação), como é conhecido o conjunto habitacional do bairro Alto da Serra. Uma imagem de Nossa Senhora das Graças colocada em um dos muros do condomínio ficou intacta mesmo após parte da estrutura ser derrubada pela força dos deslizamentos.

Imagem ficou intacta mesmo com parte do muro tendo desabado Foto: Rafael Nascimento de Souza

Após as fortes chuvas que atingiram a Cidade Imperial na última terça-feira, o cenário no município é de destruição. Casas, comércios e veículos foram encobertos por lama que desceu das montanhas. Histórias de vida foram arrastadas pela enchente. Porém, moradores encontraram força e esperança em histórias de fé que estão sendo registradas na cidade pós-tragédia, que matou 152 pessoas e deixou outras centenas desabrigadas.

O condomínio foi erguido em 1973. Foi uma moradora que naquele ano colocou a santa no muro do condomínio. Muito devota, Dona Maria cuidou da imagem até morrer, há cerca de seis anos. Hoje, moradores contam que foi graças a Nossa Senhora das Graças e Deus que nada aconteceu com o conjunto habitacional.

— Eu vejo isso como um milagre de Deus. Uma chuva como essa é ela ficar intacta. Ela se salvou para nos proteger. Infelizmente, algumas pessoas não sobreviveram. Mas, ela ficou aqui para nós proteger — diz o aposentado José Luiz Montalvane, de 75 anos, que vive no condomínio há 43 anos.

A aposentada Tânia Mara Figueira Sacchetto, de 70 anos, é síndica do condomínio desde 2012. Ela destaca aponta interferência divina.

— Não sei dizer o motivo dela ficar intacta. Isso é mistério de Deus — destaca.

A aposentada Luiza Brandes, de 81 anos, que mora no local há mais de cinco décadas, não sabia que a santa havia se salvado. Ela ficou surpresa com a notícia.

— Ela ficou intacta? Que beleza! Ela nos protegeu, então. Com ela não tem brincadeira. Nossa Senhora é tudo. Ela e o filho. Isso nos faz acreditar muito mais. Pensar no outro, no próximo e nunca esquecer de Deus — diz.

Moradores relatam em conseguir doações

Apesar do enorme quantitativo de doações e do esforço incansável das equipes de ajuda, voluntários, jipeiros e motoqueiros, ainda há moradores em Petrópolis sofrendo com a falta de alimentos e, principalmente, produtos de higiene básica e pessoal. Em áreas altas e com difícil acesso, como Chácara Flora, Rua 24 de Maio e partes do Caxambu, a população sofre e cada cesta básica que chega é disputada por quem precisa.

Ações para tentar suprir as necessidades mais básicas têm se multiplicado, através de grupos e de empreendimentos da própria região. Ainda assim, há momentos em que a quantidade de itens não é o suficiente para todos. Na sexta-feira, a reportagem de O GLOBO flagrou a correria e o empurra-empurra de moradores da Chácara Flora, BNH, Eucalipto e Caminho do Paraíso após a chegada de um caminhão com cestas básicas, água e quentinhas em uma igreja que serve como ponto de apoio. Neste sábado, moradores que não conseguiram pegar as cestas no dia anterior, retornaram ao local, mas saíram de mãos vazias.

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