Indulgências em favor dos fiéis defuntos

A indulgência é sempre recebida apenas pelos vivos, mas pode ser aplicada aos falecidos. Esta aplicação se dá, em especial, entre 1º e 8 de novembro

Vanderlei de Lima / Foto: Antoine Mekary | Aleteia

A indulgência é sempre recebida apenas pelos vivos, mas pode ser aplicada aos falecidos. Esta aplicação se dá, em especial, entre 1º e 8 de novembro

Apalavra indulgência tem, entre outros significados, o sentido de clemência ou de indulto da pena. Pois bem, essa é a concepção clássica que passou para a Teologia: indulgência é a remissão da pena temporal devida ao pecado já perdoado. É plenária se apaga totalmente essa pena, e é parcial se extingue apenas parte dela (cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 312).

Não perca a Missa internacional por seus entes queridos falecidos. Nós levaremos as suas intenções ao altar – de graça.

Reflitamos um pouco: pecar é dizer não à vontade de Deus ou cometer uma ofensa ao Criador. Mais: há pecados graves e leves. Os graves ou mortais – pois matam a amizade com Deus – só são perdoados, ordinariamente, pelo sacramento da Confissão ou pelo Batismo, caso o batizando seja adulto. Para haver um pecado grave, no entanto, é imprescindível existir matéria grave e, ocorrendo-a, que a pessoa conheça e queira fazer o pecado. Caso falte um desses itens, só há pecados leves ou veniais (têm a vênia de Deus em favor do errante) que são, então, perdoados pelas obras de misericórdia, pelo Ato de Contrição bem rezado, por uma penitência feita com amor ao Senhor e recusa ao erro. Daí não ser obrigatório, mas, sim, recomendável confessá-los.

Importância

Exposta, pois, a doutrina sobre a Confissão sacramental, apresentemos a importância das indulgências. Antes do mais, digamos que a Confissão sacramental apaga todo pecado de um penitente retamente arrependido; as indulgências eliminam as penas temporais devidas a esse pecado já perdoado, mas que requer reparação.

Eis um exemplo pelo qual é fácil entender o valor dessa reparação: alguém difama outra pessoa, confessa-se e é perdoada, mas há de reparar o seu erro. Terá de se empenhar por todos os meios lícitos para que a honra da pessoa difamada seja, na íntegra, restaurada.

Ora, todos os pecados violam a ordem estabelecida por Deus; portanto, esta merece sempre ser reparada. Pois bem, para realizar essa expiação ou reparação, a Igreja – a quem o Senhor Jesus confiou as chaves para administrar os tesouros da Redenção (cf. Mt 16,19; 18,18; Jo 20,22-23) –, aplica esse mesmo tesouro infinito de méritos que Cristo adquiriu com sua Paixão e morte e frutificou na Virgem Maria e nos Santos em favor dos penitentes.

Daí se falar em “obras indulgenciadas”. Elas ocorrem quando o fiel reza uma oração ou faz um ato aprovado pela autoridade eclesiástica (visita ao Santíssimo Sacramento, leitura da Sagrada Escritura por ao menos meia hora etc.) com o objetivo de apagar a pena temporal devida aos pecados cometidos, mas já perdoados na Confissão.

Pode ser aplicada aos falecidos

Todavia, não se lucra indulgências por um ato mágico e nem a obra indulgenciada apaga os pecados de ninguém. Por isso, para lucrar a indulgência é necessário se confessar, comungar, rezar nas intenções que estão no coração do Santo Padre, o Papa (ao menos um Pai-Nosso), e recitar o Credo com rejeição total ao pecado. A indulgência é sempre recebida apenas pelos vivos, mas pode ser aplicada aos falecidos. Esta aplicação se dá, em especial, entre 1º e 8 de novembro.

Neste ano, devido à pandemia, a Igreja a estendeu ao mês inteiro de novembro a quem visitar o cemitério dentro das condições requeridas. Ainda: a indulgência plenária de 2 de novembro, que pode ser obtida com a visita piedosa a um oratório ou igreja para rezar ali um Pai-Nosso e um Credo, juntamente com o cumprimento das condições necessárias para obter qualquer indulgência plenária, foi estendida, de modo extraordinário, para o mês inteiro de novembro.

Indulgência plenária

Recordemo-nos também de que a hora da morte é propícia para se receber uma indulgência plenária. Diz Dom Frei Boaventura Kloppenburg, OFM: “O padre que então administra os sacramentos não se esqueça de comunicar ao enfermo devidamente disposto a benção apostólica com a indulgência plenária na hora da morte” (A fé do cristão católico hoje. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 138). Todos podemos relembrar isso aos padres.

Caso, porém, não haja sacerdote, o fiel gravemente enfermo pode lucrar indulgência plenária se, bem disposto e arrependido de seus pecados, fizer o firme propósito de se confessar e comungar o quanto antes. Se possível, tenha consigo um crucifixo e reze também um Ato de Contrição e de Amor a Deus (cf. idem). Fora disso, toda pessoa – em condições normais – pode lucrar apenas uma indulgência plenária por dia.

Aproveitemos, pois, mais este presente da misericórdia de Deus para nós.

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