Frei Regivaldo celebra doze anos de Sacerdócio refletindo sobre pandemia, fé e redes sociais

“As pessoas precisam ser escutadas, e nós sacerdotes devemos estar disponíveis para isso”

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Frei Regi: “A pandemia, infelizmente é uma fatalidade que estamos vivendo” / Foto: Angela Zolhof

Por Emilton Rocha

Nesta segunda-feira, 8 de junho, Frei Regivaldo Silva, carinhosamente tratado como Frei Regi, está completando 12 anos de Vida Sacerdotal. Natural de Manaus (AM), ele pertence à Custódia dos Frades Capuchinhos do Amazonas e Roraima e, atualmente, reside na Fraternidade São Sebastião dos Capuchinhos, no Rio de Janeiro.

Ordenado há doze anos na Igreja de São Bento, em Manaus, Frei Regi é graduado em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (2015). Tem experiência na área das Relações Interétnicas e Antropologia da Religião. Cursou Filosofia (1997-2000) pelo ITEPES, em Manaus (Instituto de Teologia, pastoral e Ensino Superior). Também é Mestre em Ciências Sociais com formação na PUC-Rio. Abaixo, uma entrevista com o sacerdote.

Para o senhor, o que representam esses 12 anos de vida sacerdotal?

O 12 é um número simbólico nas Sagradas Escrituras: as 12 Tribos de Israel, no Antigo Testamento, os 12 Apóstolos… Para mim, é uma oportunidade grandiosa ouvir novamente a voz do Senhor que me convidou um dia e, com certeza, continua a me convidar a configurar a minha vida ao seu projeto, e descobrir o projeto de Deus, dia após dia, para poder me ajustar de maneira mais estreita a ele. É o que significam para mim esses 12 anos: olhar para trás e ver a ternura e a bondade de Deus, e olhar para frente e perceber que ele continua a me convidar para ser colaborador do seu projeto.

Qual a sua principal missão como sacerdote?

Ser a expressão da amizade de Jesus para com os mais fracos. O lema da minha Ordenação Sacerdotal é “Com os fracos tornei-me fraco para levá-los a Cristo”. Não se antecipar no julgamento, que é muito tentador para todos nós nos anteciparmos no julgamento. Mas nos anteciparmos na caridade, no amor, na capacidade de escutar o outro, de enxugar as suas lágrimas, de ser humano com essas pessoas. Para mim, é essa a principal missão do sacerdote. Não é tanto só celebrar missa, mas ser expressão da misericórdia de Deus. Quantas pessoas precisam de um afago, de alguém que as escute, de alguém que “perca” o seu tempo para escutá-las. Essa, talvez, seja a maior exigência dos tempos atuais para o sacerdote escutar, porque para falar já tem muita gente falando, graças ao bom Deus – esse é um dado positivo –, mas eu acredito que as pessoas precisam ser escutadas, e nós sacerdotes devemos estar disponíveis para isso.

Em tempo de coronavírus, em que as igrejas estão fechadas, o senhor já se acostumou às celebrações diárias transmitidas pelas redes sociais?

Neste tempo de redes sociais, estamos sendo provocados pela sua ‘intromissão’ nas celebrações. É a maneira que nós conseguimos chegar aos corações, aos paroquianos, aos amigos e às pessoas que estão sofrendo angustiadas com todo esse isolamento que parece não ter fim. Para mim, é um fato que eu encaro como uma certa normalidade. As redes sociais não podem ser demonizadas, elas devem estar a serviço do bem. Quando a gente consegue entrar nessa via da comunicação para manter o contato com os fiéis, para mim é torna-se significativo o uso desses instrumentos para a evangelização.

Espiritualmente falando, como o senhor encara essa pandemia de COVID-19? Seria uma provação?

Ela não pode ser enxergada com uma provação, ou como muitos às vezes têm uma tendência de colocá-la como se fosse uma punição ou um castigo de Deus. A pandemia, infelizmente, é uma fatalidade que estamos vivendo, provavelmente fruto da degradação da Casa Comum, como diz o Papa Francisco quando se refere à ecologia. Infelizmente, o planeta Terra está agonizando, o homem interveio de forma muito violenta, agressiva na vida do planeta e, aos poucos, essa Casa Comum está dando sinal de que está agoniando e a Humanidade cada vez mais se deparando com doenças naturais como epidemias causadas – vamos dizer assim – pela atuação do homem sobre a Natureza, uma atuação de forma irresponsável. Para mim, a pandemia não é castigo de Deus, mas uma chamada de atenção para a maneira como estamos vivendo e como estamos lidando com a questão do meio ambiente.

Durante as celebrações pelas redes sociais, algumas pessoas pedem que Deus aumente sua fé. Na sua opinião, essa pandemia tem contribuído para diminuir a fé dos cristãos?

Eu não acredito que a pandemia abalou a fé das pessoas, até porque nesse tempo muitos canais e muitas janelas de evangelização se abriram. As portas das igrejas foram fechadas literalmente mas foram abertas uma infinidade de janelas de evangelização. Uma metáfora muito significativa para este momento: “Fechamos as portas e abrimos as janelas”. Acredito que as múltiplas transmissões e programações que não são apenas de missas, que as paróquias do Brasil e do mundo estão fazendo, estimularam as pessoas a caminhar, a aprofundar e a viver a experiência do Sagrado. Quantas pessoas nós estamos alcançando, por exemplo, que nem vinham à igreja?! Esse momento é um momento para aumentar a fé.

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