Campanha da Fraternidade 2015 – Eu vim para servir (Mc 10,45)

 

Eu vim para servir (Mc 10,45)

Frei Rogério Goldoni Silveira – OFMCap10982458_924279804257095_847876429641679391_n

Caríssimos irmãos, a Campanha da Fraternidade deste ano nos convidando a refletir, rezar e meditar a relação entre Igreja e Sociedade. Quer relembrar a importância dos fieis serem fermento na sociedade, além de retomar aquilo que papa Francisco tem insistido nos últimos anos, e que também está presente no documento n. 100 da CNBB, a saber, a importância de sermos uma Igreja em saída, não em fuga, mas de ida ao encontro das realidades que pedem uma luz do Evangelho.

O texto base da CF 2015 leva o fiel a recordar sua vocação e missão na sociedade, a fim de que haja uma Igreja ativa, viva, sem medo de tomar a iniciativa e ir ao encontro dos pobres e excluídos. Precisamos evangelizar pela caridade, afirma o papa Francisco, ao mesmo tempo em que afirma: “hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho”.

Em toda a história, a Igreja sempre atuou a Sociedade. Às vezes com muita influência, como na época da Cristandade. Em outros momentos com menor influência. Da metade do século XX até hoje, pulularam transformações na sociedade e acontecimentos amargos, como a expansão acelerada dos centros urbanos, ditaduras, o pós-guerra. E os bispos do Brasil agiram. Criou-se a CNBB, intensificaram-se os movimentos da Ação Católica Especializada e sindicatos com inspiração eclesial, pastorais sociais (CPT, CBJP, CIMI) e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A própria Campanha da Fraternidade foi veículo importante para a Igreja manifestar sua posição em relação aos grandes problemas vividos pelo povo brasileiro. Você se recorda da CF de 1974 (Reconstruir a vida – Onde está o teu irmão?)?

Analisando a relação Igreja e Sociedade, a CF 2015 preocupa-se com urbanização que tem gerado tantos desafios: violência, poluição, drogadição, favelização, condições sanitárias precárias, assim como a mobilidade caótica. Hoje, mais de 50% dos domicílios não têm coleta de esgoto, e do coletado, menos de 40% recebem algum tratamento. E veja, para suprir o déficit no saneamento básico, deveria ocorrer um investimento de R$ 12 bilhões por ano, durante 20 anos consecutivos.

Mas a CF também lança um olhar sobre as relações políticas e humanas, que tem recebido abalos fortes. Insiste que os grupos minoritários (indígenas, quilombolas, pescadores, comunidades tradicionais e outros) merecem atenção, segundo a peculiaridade de cada um. E a violência deve ser tratada com empenho pelas autoridades e pelos fieis, assim como o problema das drogas.

Contata-se, ainda, a grande busca religiosa, que tem como propaganda principal a cura e prosperidade, gerando uma religiosidade individualista, pouco preocupada com o bem comum. É o que o papa Francisco chama de “mundanismo espiritual”, ou seja, práticas que ocorrem dentro da Igreja baseadas na busca de autossatisfação, de perda do sentido comunitário e do projeto de Jesus. Sobre esse tipo de fé, o próprio papa afirma ser um “elitismo narcisista e autoritário” de quem se sente superior ao cumprir certas normas eclesiásticas ou sendo fiel a um estilo do passado.

 Caros irmãos, a Igreja tem uma posição clara. Luta pelo bem comum, tem a família como célula primária da sociedade e primeira escola dos valores sociais, insiste no princípio da subsidiariedade e compreende que viver a fé exige participação na vida social. Como está a sua fé? Recorda que temos a certeza da pátria definitiva, mas não podemos nos descuidar dos deveres temporais, pois, como apresenta a Constituição pastoral Gaudim et Spes (n. 42), quem assim age, falta aos seus deveres com o próximo e até com o próprio Deus, e põe em risco a sua salvação eterna.

Reflita sobre este tema, pois você é Igreja. A Igreja vem de Cristo para servir, como o próprio Senhor serviu. Que reflitamos este tema no tempo da quaresma, para nos convertemos e sermos uma Igreja em saída, preocupada em servir e não em ser o centro.

Paz e Bem!

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