No Santuário existe uma confraria de Nossa Senhora das Dores, que é também remanescente do Morro do Castelo
No dia 15, quinta, às 18h, o Santuário Basílica de São Sebastião irá celebrar a Solenidade de Nossa Senhora das Dores. No Santuário existe uma confraria de Nossa Senhora das Dores, que, aliás, é também remanescente do Morro do Castelo – que ano passado completou 160 anos. Originalmente, a Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro localizava-se no morro do Castelo, um dos locais de constituição da cidade. Porém, em 1922, com a demolição do Morro do Castelo, a Igreja de São Sebastião do Rio de Janeiro também acabou posta ao chão.
A solenidade acontecerá um dia após o término do Setenário que está sendo realizado de 8 a 14 de setembro e que é antecedido diariamente pela Oração Coroinha de Nossa Senhora.
A data de 15 de setembro é conhecido como o Dia de Nossa Senhora das Dores. A santa é venerada pela igreja católica desde o século XIII e a sua popularidade chegou ao ponto dela ser considerada padroeira de várias cidades dentro e fora do país, com seus títulos diferentes. No Brasil, a santa é padroeira de Minas Gerais – com o título de Nossa Senhora da Piedade. Mas como funcionam os títulos e nomenclaturas de Nossa Senhora das Dores? E por que ela é tão venerada e popular?
Uma santa, vários títulos
Como todas as “Nossas Senhoras”, Nossa Senhora das Dores refere-se à Maria, mãe de Jesus. Porém, diferentemente de outras “Nossas Senhoras” como Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora das Dores não traz nenhuma referência a um local específico.
“Assim como Jesus é conhecido como Messias, Cristo, Filho de Davi, isso também se dá com Maria. Os títulos revelam a riqueza da experiência dos cristãos ao longo dos séculos em torno da mãe de Jesus. São experiências, sejam geográficas ou teológicas. E aí, nesse sentido, todas as ‘Nossas Senhoras’ são a mesma pessoa, a mãe de Jesus”, explica Junior Vasconcelos do Amaral, padre e professor na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais. No caso de Nossa Senhora das Dores, ela é a representação de um momento específico.
“É a representação de Maria encontrando com seu filho carregando a cruz. Quando Ele é descido da cruz, a tradição diz que foi carregado no colo de Maria. E, depois, quando foi sepultado, ela ficou desolada”, diz Luiz Antônio Pinheiro, frade agostiniano e professor de história do cristianismo da PUC Minas.
Por conta dos episódios envolvendo a crucificação, morte e sepultamento de Jesus, Nossa Senhora das Dores ganhou outros títulos. “Os principais seriam Nossa Senhora das Dores, em referência ao caminho da crucificação, Nossa Senhora da Piedade, quando Jesus foi colocado em seu colo, e Nossa Senhora da Soledade, quando Maria ficou em angustiante solidão durante o sepultamento de Jesus”, conta Pinheiro.
Há, ainda, uma série de outros títulos para Nossa Senhora das Dores: Nossa Senhora das Angústias, Nossa Senhora da Agonia, Nossa Senhora das Lágrimas, Nossa Senhora das Sete Dores, Nossa Senhora do Calvário, Nossa Senhora do Monte Calvário, Mãe Soberana e Nossa Senhora do Pranto. A denominação “Mater Dolorosa” (em latim), também é bem popular.
Devoção começou na Europa
A devoção à Nossa Senhora das Dores vem de longe: os primeiros registros vêm da Alemanha, por volta do ano 1221. Posteriormente, por volta de 1239, a veneração à santa chegou à Itália.
Fora do catolicismo, Nossa Senhora das Dores faz parte do sincretismo religioso das religiões de matriz afro-brasileira. Em determinadas regiões do Brasil, a santa é sincretizada no orixá Oxum.
“É uma santa bem popular. Inclusive existe uma semana dedicada a Nossa Senhora das Dores, que é a semana anterior à semana santa. Chamamos na Igreja Católica de semana das dores, onde refletimos as sete dores de Nossa Senhora”, cita Vasconcelos.
As sete dores de Nossa Senhora
Se um dos títulos da santa é Nossa Senhora das Sete Dores, isso significa que houve, ao menos, sete momentos, ou as sete dores, em que a mãe de Jesus teria passado por intenso sofrimento. São eles:
●a profecia feita por Simeão a Maria, quando Jesus ainda era bebê, que dizia que o menino seria responsável por queda e erguimento de muitos homens em Israel.
●a fuga de Maria e José, para o Egito, pouco depois do nascimento de Jesus, para escapar de uma ordem do então rei do território da Judeia, Herodes, que visava a morte de todos os recém-nascidos;
●o desaparecimento de Jesus em um templo de Jerusalém. Então com 12 anos, Jesus fora com os pais para Jerusalém. Porém, Maria e José não perceberam que o menino havia ficado em Jerusalém em vez de retornar a Nazaré. O reencontro aconteceu três dias depois.
●O encontro de Maria com Jesus a caminho do local da crucificação;
●Maria observando a dor e o sofrimento de Jesus na cruz;
●Maria recebendo o corpo de Jesus após a morte na cruz;
●Maria observando o corpo de Jesus sendo colocado no sepulcro.
Todas essas dores são retratadas em passagens bíblicas e fazem parte da iconografia da santa. Uma das imagens de Nossa Senhora das Dores tem um coração cravado com sete espadas ou facas, representando justamente as sete dores.
Nossa Senhora também é humana
Vimos que Nossa Senhora das Dores faz, de fato, jus ao nome. Isso, de acordo com os teólogos, é o que causa da identificação dos devotos com a santa. “É a identificação com a dor do povo. Não é à toa que as representações da Paixão de Cristo são muito populares pelo Brasil”, opina Luiz Antônio Pinheiro. “A devoção mostra a humanidade de Maria. Como nós, ela sofre, chora e nos mostra que precisamos estar de pé para que a gente possa seguir adiante na luta cotidiana”, acrescenta Vasconcelos.
O momento em que Maria teria carregado o corpo de Jesus no colo se tornou célebre no mundo das artes. É daí que a escultura Pietà, produzida pelo italiano Michelangelo Buonarroti em 1499, se originou. Atualmente, a obra de arte se encontra em uma capela da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Oração
“Ó Mãe de Jesus e nossa Mãe, Senhora das Dores, nós vos contemplamos pela fé, aos pés da cruz, tendo nos braços o corpo sem vida do Vosso Filho. Uma espada de dor transpassou vossa alma como predissera o velho Simeão.
Vós sois a Mãe das Dores. E continuais a sofrer as dores do Vosso povo, porque sois Mãe, companheira, peregrina e solidária.
Recolhei em vossas mãos os anseios e as angústias do povo sofrido, sem paz, sem pão, sem teto, sem direito a viver dignamente. E com vossas graças, fortalecei aqueles que lutam por transformações em nossa sociedade.
Permanecei conosco e dai-nos o Vosso auxílio, para que possamos converter as lutas em vitórias e as dores em alegria.
Rogai por nós, ó Mãe, porque não sois apenas a Mãe das Dores, mas também a Senhora de todas as graças. Amém!”