São Sebastião, Santo Guerreiro

Amplamente cultuado em Portugal, trazido ao Brasil, conquistou fiéis em todas as regiões, inclusive como padroeiro de muitos lugares, como a cidade do Rio de Janeiro

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Por Gazeta de São João del-Rei  / Por: Luiz Cruz * / Foto: Emilton Rocha

São Sebastião (256 d.C. – 286 d.C.) nasceu na França e viveu em Milão. Chegou a Roma através de caravanas de migração. Listou-se como soldado do exército romano por volta de 283 d.C objetivando apoiar os cristãos enfraquecidos pelas torturas. Conquistou a confiança dos imperadores Diocleciano e Maximiano.

Apesar de cristão, foi designado capitão da guarda dos imperadores. Foi complacente com os prisioneiros cristãos e por isso considerado traidor, tendo sido ordenada sua execução por meio de flechas. Seu corpo foi atirado ao rio, mas ainda não estava morto, sendo resgatado por Irene, que cuidou dos ferimentos.

Após a recuperação, apresentou-se novamente junto a Diocleciano, que ordenara seu espancamento até a morte. Depois seu corpo foi jogado no esgoto público romano. Luciana o resgatou, limpou e sepultou nas catacumbas. O nome Sebastião deriva-se do grego sebastós, que significa divino, venerável. Devido a sua execução de maneira violenta, tornou-se tema comum na arte medieval. O culto a São Sebastião teve início no século IV e atingiu o auge na Baixa Idade Média (século XIII ao XV).

Sebastião tornou-se um dos santos mártires romanos mais populares da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa. Amplamente cultuado em Portugal, trazido ao Brasil, conquistou fiéis em todas as regiões, inclusive como padroeiro de muitos lugares, como a cidade do Rio de Janeiro.

É uma das devoções mais populares em Minas Gerais e presente em muitas igrejas e capelas. Nas religiões de matriz africana ou afro-brasileiras, São Sebastião é sincretizado com o orixá Oxóssi, das florestas e das relações entre os reinos animal e vegetal. Oxóssi se fortaleceu nas matas, onde o negro e o índio se encontraram ou ali se refugiavam. Houve um “terreiro” em Tiradentes, cujo babalorixá era filho de Oxóssi e as festas e os trabalhos eram feitos nas matas da Serra de São José, quando o pessoal passava a noite toda lá. Coincidentemente, São Sebastião é o padroeiro de Santa Cruz de Minas e o maior patrimônio da localidade é a Serra de São José.

A iconografia de São Sebastião é simples, geralmente veste perizônio, descalço, cabelos longos, com braços e pernas atados a um tronco ou coluna. Traz no corpo as flechas, em madeira ou metal.

A Matriz de Santo Antônio de Tiradentes possui duas imagens dessa devoção, uma em tecidos e cola, policromada – está no altar-mor; a outra é uma peça em madeira, em que o santo é apresentado com as características de um índio, especialmente o cabelo liso e estilizado – está exposta no Museu da Liturgia.

Na Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei há uma belíssima imagem do santo, com expressão de êxtase e olhar fixo para o céu. Veste perizônio movimentado, vermelho com detalhes dourados. Está atado em tronco prateado e em seu corpo as setas. O cabelo é arremessado para trás. Sobre a cabeça tem um resplendor de prata.

A plasticidade escultórica e a boa policromia contrastam e tornam essa imagem uma obra-prima. Em Santa Cruz de Minas, o padroeiro São Sebastião é representado por uma imagem em gesso, da primeira metade do século XX, provavelmente introduzida pelo padre José Bernardino de Siqueira. Tem o cabelo curto e encaracolado, olhos de vidro e a boca entreaberta. Veste perizônio vermelho com arremate em ouro. Está atado ao tronco e em seu corpo estão quatro flechas prateadas. Essa imagem é tombada individualmente pelo Conselho Municipal de Política Cultural e Patrimônio e a Festa de São Sebastião é registrada como Patrimônio Imaterial de Santa Cruz de Minas.

São Sebastião foi amplamente representado por diversos artistas brasileiros. Uma das obras mais significativas é Recompensa de São Sebastião, de Eliseu Visconti, datada de 1898 e que integra o acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, esse trabalho foi premiado nos Estados Unidos, em 1904. O santo é apresentado em corpo lânguido e alvo, tem os braços cruzados ao peito, com as flechas e sendo coroado por um grande anjo alado, trata-se de bela composição. Alberto da Veiga Guignard pintou diversos quadros representando-o, muitos deles de forte impacto e grande dramaticidade. Cândido Portinari pintou um painel dedicado ao mártir, mas com uma pintura mais leve e forte presença do tom amarelo. Emeric Marcier retratou o santo de forma a nos revelar sua dor, com força e expressividade, mas acima de tudo com criatividade ao expor o corpo torturado. Glauco Rodrigues elaborou diversas representações, associando-o com a cidade do Rio de Janeiro e seus elementos icônicos; realizou várias alegorias inserindo a imagem do mártir ao universo da pop art. Muitos outros artistas retrataram-no, seja na sua iconografia tradicional ou recriando de acordo com a linguagem de cada um.

O dia 20 de janeiro é dedicado a São Sebastião, As Folias de São Sebastião visitam os devotos e diversas localidades brasileiras prestam homenagens ao santo guerreiro, tão querido em todo Brasil.

* Luiz Cruz é professor

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