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A propósito do Jubileu de Prata da Igreja de São Sebastião do Antigo Morro do castelo

P. Frei Jacinto de Palazzolo

O Morro de São Januário batizado “Morro do Castelo”, quando a cidade, fundada por Estácio de Sá na várzea Cara de Cão, se transferiu no alto da colina para se defender contra os franceses, estava condenado ao arrasamento desde mais de um século.
Conforme assevera o bem informado cronista da cidade, Viera Fazenda, em “Antigualhas e Memórias”, quem primeiro pregou o arrasamento do Morro do Castelo foi o Dr. Dom José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho com a publicação do “Ensaio Econômico”, no tempo do Vice-Reinado. D. José Joaquim era Bispo de Pernambuco e, depois, de Elvas.
Durante mais de um século, o assunto foi muitas vezes debatido e diversos projetos foram apresentados, acompanhados de amplas exposições de motivos e vantagens para a cidade. O Legislativo chegou a cogitar do assunto mais sem resultado.

Aproximando-se, porém, as comemorações do Centenário da Independência, o eminente Prefeito de então, Dr. Carlos Sampaio, homem de ideias claras, resolveu enfrentar de rijo o problema do arrasamento do morro e preparar o espaço necessário para a Exposição Internacional, onde seriam levantados os pavilhões das nações amigas, o Palácio das Festas e a Avenidas das Nações, além da ampla praça para as comemorações. Tal qual como fez, depois, na iminência do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, o atêrro do Morro do Castelo serviu para tirar do mar o espaço necessário.

Acirrada campanha da Imprensa

Marco da Cidade
Marco da Cidade

Ao ser conhecido o Decreto n 1451, de 17 de agosto de 1920, aprovando os planos organizados para o arrastamento do Morro do Castelo e melhoramentos a realizar na ária resultante, desapropriando os prédios e terrenos necessários à execução, desencadeou-se acirrada campanha de imprensa. A opinião pública dividiu-se em duas grandes correntes, cada qual apoiada fortemente na imprensa, trabalhando-se longa e teimosa batalha.
A noite liderava a campanha contra o arrasamento e abria fogo com títulos como este: “É inacreditável; – mas disto ao arrasamento falta muito. O prefeito inimigo dos Morros”. Do outro lado respondiam O Jornal e O País, informando sobre “A Remodelação da Cidade – As grandes obras para o Centenário da Independência”.

Durante meses a fio, o assunto ficou no cartaz. O Morro do Castelo, até então esquecido, embora a dois passos da Escola de Belas Artes e do Municipal, serviu de tema para entrevistas, artigos assinados, pelos melhores nomes das letras e da engenharia, abordando todos os lados, que o assunto comportava. O repórter descobriu, então, que subir a colina histórica era arriscado, embora já rasgada a Avenida Rio Branco e cortada a ladeira existente. Desde muito, o Morro do Castelo, em cujo tope estavam assentados o Observatório Nacional, a Igreja dos Jesuítas e a do Padroeiro São Sebastião com suas relíquias históricas, estava isolado e o acesso difícil. Nas primeiras sextas-feiras do mês, entretanto, milhares de devotos subiam contritos, rumo ao templo de São Sebastião, para receber, com a benção tradicional, as graças e as luzes divinas.
Basta folhear os jornais da época para se ter ideia do ardor da polêmica e suas violentas manifestações. O Prefeito Dr. Carlos Sampaio, enfrentou sobranceiramente todas as críticas, dominando a situação e executando a imponente obra do desmonte.

A lenda de fabulosos tesouros

Na faltaram, no meio das discussões, os ingênuos, que acreditavam e sonhavam com os fabulosos tesouros do Castelo, enterrados ou depositados em subterrâneos, inexistentes, pelos piratas, pelos portugueses ou mesmo pelos Jesuítas no tempo da perseguição Pombal. Chegou-se a descrever as imaginárias galerias onde estavam depositados doze apóstolos de ouro, em tamanho natural, e outros objetos preciosos. A fantasia popular, alimentada pelas publicações das folhas, não descansava a respeito.

No decorrer das obras, nem de leve sequer apareceram vestígios de subterrâneos e menos ainda dos sonhados tesouros.