A arte e a fé de mãos dadas Brasil afora / Entrevista: Fabio Ítalo Pinheiro

Anualmente, na véspera do dia da procissão, o artista prepara a berlinda do Círio de Nazaré na Basílica de São Sebastião e voa em seguida para Belém onde participa da grande festa da Rainha da Amazônia

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Fabio com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré em agosto último: “momento de fé e emoção” / Foto: Emilton Rocha

Por Emilton Rocha / Pascom

Natural de Belém do Pará e radicado no Rio de Janeiro, Fabio ítalo Pinheiro ornamenta há sete anos a berlinda do Círio de Nazaré que sai todos os anos em grande procissão pelas ruas da Tijuca, no dia 13 de outubro. Há cinco decora a berlinda que transporta a imagem original de São Sebastião no dia 20 de janeiro e há cerca dez anos ornamenta a imagem peregrina do padroeiro da Cidade, na Catedral Metropolitana. O nortista é incansável: quando não está trabalhando com sua arte em Belém, no Rio, na Bahia, em Ribeirão Preto ou em outras cidades país afora.

“Sou designer floral, trabalho com eventos e voluntariamente na ornamentação de andores, berlindas e igrejas. Profissionalmente, sou decorador floral do Cristo Redentor” – diz ele, que também é reconhecido pelo trabalho na confecção de mantos.

Ainda criança, morando com a avó Osmarina em Marapanim onde foi batizado, ia sempre com ela à igreja onde ajudava na ornamentação da berlinda. O belo trabalho despertou-lhe o desejo de aprender o ofício. Hoje, já profissional, seu maravilhoso trabalho é reconhecido no país inteiro.

Todos os anos, após ornamentar a berlinda do Círio de Nazaré no Rio, ele pega um voo direto para Belém para chegar a tempo de participar da procissão da Rainha da Amazônia. Abaixo, a entrevista.

De quantas festas religiosas você participa durante o ano?

Participo de várias festas religiosas pelo Brasil. Vale destacar que algumas têm referência nacional, como a festa de Nossa Senhora do Carmo, em Recife; a festa de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Estado do Paraná; a festa do Círio de Nazaré, em Belém (PA); a festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia e outras festas menores em cidades como Ribeirão Preto (SP), além de Marapanim, Curuçá, Castanhal (todas no Pará), entre outras.

Com quem você aprendeu a arte de ornamentar imagens, berlindas e igrejas?

Aos sete anos de idade, quando morava em Marapanim, conheci um senhor que era responsável pelas ornamentações da berlinda, chamado Raimundo Vidal. Fui ajudante dele e acabei criando gosto pela profissão, que considero fruto da Igreja Católica. Desde então nunca mais parei.

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A imagem da Rainha da Amazônia saindo em procissão no ano passado. / Foto: Angela Zolhof

De quais santas e santos você é devoto, além de Nossa Senhora de Nazaré?

Tenho por devoção algumas denominações de Nossa Senhora, em especial Nossa Senhora das Vitórias, em Marapanim onde fui batizado, a quem considero excelsa padroeira. A nível estadual, sou devoto de Nossa Senhora de Nazaré, que tem festividade maior em todo o estado. Quanto aos santos, sou devoto de São Sebastião, São Raimundo Nonato e São Benedito.

Você também ornamenta a berlinda de São Sebastião para a grande festa no dia 20 de janeiro…

O dia de São Sebastião – 20 de janeiro – é um dia muito esperado por mim. Eu preparo o carro andor com grande satisfação. É um dia dos mais felizes da minha vida por poder agradecer todas as graças alcançadas pela intercessão do padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro.

O que você acha da fé da população durante as festas do Círio de Nazaré e de São Sebastião?

Eu considero dois dias especiais porque eles são os patronos do estado e da cidade. São dias para agradecer aqueles que nos protegem e que estão sempre a nos guiar. São momentos para louvarmos os nossos santos padroeiros, porque a vida não é fácil com todas as suas dificuldades, mas estando juntos com eles, e pela sua intercessão, ela se torna melhor.

Como você explica a grandeza da festa do Círio de Nazaré?

Particularmente acho que todo católico do mundo deveria conhecer a festa do Círio de Nazaré, que é a maior manifestação do povo católico paraense, também do Brasil e do Mundo, além de ser Patrimônio Imaterial da Humanidade, concedido pela UNESCO. Daí acredito que todos nós deveríamos um dia ir a Belém do Pará conhecer essa grande festa, que é um grande momento de fé e emoção. A cantora Fafá de Belém certa vez disse: “o Círio de Nazaré não se explica, tem que ver e sentir”.

E da festa de São Sebastião?

A festa de São Sebastião é um momento de louvar o santo padroeiro. Temos que agradecer imensamente nosso Cardeal, Dom Orani Tempesta, pela inclusão da Trezena de São Sebastião, que aproximou a população da cidade do Rio de Janeiro para junto do seu padroeiro que, por alguns anos – a partir do meu ponto de vista – não tinha todo esse clamor. Muitos nem sabiam que São Sebastião era o padroeiro do Rio, imaginavam que era São Jorge. A partir da Trezena, onde Dom Orani, incansavelmente, leva a imagem missionária para todos os lugares, seja comunidades, favelas, instituições religiosas, hospitais, etc., isso tudo deu a São Sebastião o seu devido valor.

Fale sobre o convite recebido para ornamentar a monumental Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré?

Considero esse convite um marco muito importante na minha vida, uma vez que ficarei responsável pela ornamentação da imagem histórica que foi encontrada pelo caboclo Plácido em 1793 e que deu origem ao Círio de Nazaré. Para mim, é algo muito especial, muito aguardado, e eu compartilho com todo mundo esse momento que será histórico, não só no particular mas também para as instituições que eu represento, já que eu sou um paroquiano da Basílica de São Sebastião no Rio de Janeiro e sinto que estarei representando todos lá.

Veja também: Divulgada a programação da festa do Círio de Nazaré 2019 na Tijuca, em outubro

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