Feriado para os cariocas, 20 de janeiro é dia de homenagear o santo com procissões e romarias pelas ruas da cidade. Soldado romano, ele viveu no século III
Por Adriana Lima – O Globo
Ao fundar a cidade entre o mar e a montanha, em 1º de março de 1565, Estácio de Sá resolveu prestar uma homenagem ao então rei de Portugal, Dom Sebastião, batizando-a de São Sebastião do Rio de Janeiro. Quase dois anos mais tarde, em 20 de janeiro de 1567, dia dedicado ao santo, as forças portuguesas expulsaram os franceses do Rio, na Batalha de Uruçumirim. Segundo a lenda, São Sebastião teria sido visto ao lado dos portugueses. A partir de então, São Sebastião passou a ser padroeiro do Rio de Janeiro.
Ainda muito jovem, São Sebastião tornou-se soldado romano e foi um militar exemplar do exército romano durante o governo do Imperador Diocleciano (284 a 305 d.C.), que emprendeu grandes perseguições aos cristãos que não reconheciam sua divindade. Apesar de servir ao imperador, era um homem piedoso e tinha livre acesso às prisões; visitava os cristãos para confortá-los, mantendo sua crença religiosa. Existem algumas divergências sobre o local de seu nascimento, em fins do século III, se em Nardonne, na França, ou em Milão, na Itália.
Por sua bondade com os cristãos, foi denunciado por traição e condenado à morte. Ele foi amarrado a um tronco e arqueiros atiraram dezenas de flechas para que sangrasse até a morte. Apesar da tentativa de execução, São Sebastião foi cuidado por Santa Irene e resistiu aos ferimentos. Reapresentou-se ao imperador Diocleciano, proclamando sua fé, e novamente foi condenado. Então, em 20 de janeiro, foi açoitado até a morte e teve seu corpo jogado no esgoto, para que não se tornasse um objeto de culto, sendo resgatado e enterrado nas catacumbas por Santa Luciana. Foi esta a data escolhida pela Igreja Católica para homenagear o protetor das vítimas da fome, das pestes e da guerra, por suas ações de coragem e fidelidade ao cristianismo.
No bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, a Igreja de São Sebastião dos Frades Capuchinhos possui o marco da fundação da cidade: a urna com as cinzas do fundador da cidade, Estácio de Sá, além da primeira imagem de São Sebastião que ele trouxe de Portugal. Todo ano, a tradicional procissão de São Sebastião parte da paróquia até a Catedral Metropolitana, no Centro. Milhares de fiéis, muitos dos quais pagadores de promessa por graças alcançadas, acompanham a procissão de São Sebastião, que começou a ser venerado no século IV. Devotos usam roupas vermelhas e brancas, que simbolizam a paz e o sangue dos mártires, e flores na mesma tonalidade para celebrar e agradecer ao santo.
Nas tradições afro-brasileiras, o orixá Oxóssi na umbanda é sincretizado como São Sebastião. Oxóssi é o orixá da fartura, da caça e das matas e é representado caçando nas florestas com seu arco e flecha. Durante a procissão de 1964, foi lançada a pedra fundamental da nova Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, no Centro da cidade. Na edição de 21 de janeiro, O GLOBO noticiava: “O lançamento da pedra fundamental da futura Catedral Metropolitana foi o ponto culminante das solenidades com que se comemorou, ontem, a festa de São Sebastião, padroeiro do Rio”.
O dia do padroeiro da cidade sempre foi muito comemorado pelos cariocas, mas em 1965, Negrão de Lima, governador do então Estado da Guanabara, suspendeu o feriado do santo. Em 10 de janeiro do ano seguinte, caiu sobre a cidade um temporal que fez muitas vítimas e o feriado foi prontamente restabelecido, devolvendo ao carioca o direito de festejar o seu santo padroeiro.