As modificações ao Summorum Pontificum restabeleceriam a necessidade de obter o consentimento do bispo local para utilizá-lo
Por ACI Digital
A Congregação para o Culto Divino prepara um documento modificando o motu próprio Summorum Pontificum, com o qual Bento XVI liberou a celebração da missa no rito anterior às reformas instauradas depois do Concílio Vaticano II, apurou o grupo ACI junto a uma fonte de dentro da congregação.
O papa Francisco fez uma sessão de perguntas e respostas a portas fechadas com os membros da Conferência Episcopal Italiana que se encontraram em Roma para sua assembleia plenária anual entre os dias 24 e 27 de maio. Aos bispos, Francisco teria insinuado que haverá novos regulamentos para a celebração da missa na forma extraordinária, disseram dois bispos participantes da conferência ao grupo ACI.
Com a publicação do Summorum Pontificum, Bento XVI permitiu a celebração da missa de acordo com o Missal de São João XXIII em toda a Igreja de rito latino. Na carta dirigida a todos os bispos que acompanhou o motu próprio de 2007, Bento XVI estabeleceu que “na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial”. Bento XVI acrescentou: “quero chamar a atenção para o fato de que este missal nunca foi juridicamente ab-rogado e, consequentemente, em princípio sempre continuou permitido “.
Segundo a fonte do grupo ACI na Congregação para o Culto Divino, as modificações ao Summorum Pontificum restabeleceriam a necessidade de obter o consentimento do bispo local para utilizá-lo. As mudanças “foram solicitadas por alguns bispos locais, reivindicando a necessidade de regular melhor as condições para celebrar a Missa no Rito Antigo”. A queixa mais comum dos bispos seria que às vezes, o grupo de pessoas que solicita a missa tradicional em latim é minúsculo, e acrescentar esta celebração e manter uma igreja aberta para uma quantidade tão pequena de pessoas pode ser problemático em dioceses com escassez de sacerdotes.
Em 2020, a Congregação para a Doutrina da Fé enviou um questionário de nove pontos sobre o Summorum Pontificum aos presidentes das conferências episcopais do mundo inteiro. O papa Francisco afirmava querer ser “informado sobre a aplicação atual” do motu proprio. As respostas não iriam para a Congregação para a Doutrina da Fé, mas para a Congregação do Culto Divino.
O documento restringindo o uso da forma extraordinária estaria em sua terceira versão. As duas primeiras versões teriam sido consideradas “muito duras”. A terceira toma mais cuidado com “a possibilidade de que regulamentações restritivas possam ser percebidas como um passo atrás no caminho da harmonia litúrgica desejada por Bento XVI”, apurou o grupo ACI. Uma das ideias seria exigir que os padres que queiram rezar missa na forma extraordinária estabeleçam uma comunidade específica em uma igreja específica. Na basílica de São Pedro, o rito extraordinário já está restrito à capela Clementina, nas Grutas do Vaticano, desde o dia 22 de março.
Terminar o último rascunho e preparar a publicação do novo documento será tarefa do novo subsecretário da congregação, Aurelio García Masías. Em julho, ele será consagrado bispo, uma dignidade que não costuma ser dada a subsecretários de dicastérios. Essa decisão indicaria o desejo do papa Francisco de transferir a competência sobre a missa tradicional latina da CDF para a Congregação para o Culto Divino.