O que significa consagrar um país a Maria?

E como se pode consagrar um país se nem todos nele são cristãos?

O Papa Francisco visita o Santuário de Nossa Senhora de Fátima (12 de maio 2017) / Foto: LUSA

I. Media para Aleteia

O Papa Francisco fará um gesto histórico a 25 de março de 2022, festa da Anunciação. Enquanto a ofensiva russa em território ucraniano começa o seu 2º mês, o Papa consagrará a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Ele convidou todos os bispos e sacerdotes do mundo a juntarem-se à consagração.

Consagrar significa “dedicar-se a um propósito sagrado”. O termo é frequentemente usado no vocabulário da Igreja para lugares (igrejas), pessoas (religiosos ou leigos consagrados) e objetos litúrgicos, e, no coração da fé cristã, para a consagração da Eucaristia.

Também se pode consagrar pessoalmente a Cristo através de Maria, consagrar-se a Maria, ou a outros santos. A partir da Idade Média, este processo pessoal estendeu-se a cidades e depois a países. Assim, Luís XIII consagrou a França a Maria em 1638, um processo que mais tarde foi imitado por bispos e papas, para países e lugares específicos, e mesmo para o mundo inteiro. A primeira consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria foi feita por Pio XII, durante a Segunda Guerra Mundial, a 31 de outubro de 1942.

Países

Muitos países já foram consagrados ao Imaculado Coração de Maria. Os bispos portugueses consagraram Portugal no dia 13 de maio de 1931. A Polónia foi consagrada em 1946 e a Austrália em 1948.

Mais recentemente, o Congo consagrou-se ao Imaculado Coração de Maria a 4 de fevereiro de 2017, na presença do Cardeal Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé. A 18 de Fevereiro de 2017, Inglaterra e País de Gales foram consagrados pelo Cardeal Vincent Nichols, Arcebispo de Westminster. Alguns meses mais tarde, os bispos da Escócia também consagraram o seu país ao Imaculado Coração de Maria, a 3 de setembro de 2017.

Há dois anos, a 25 de março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, 24 países foram consagrados ao Imaculado Coração de Maria e ao Sagrado Coração de Jesus em Fátima para invocar a proteção do Senhor e da Virgem Maria face à epidemia.

Os países consagrados (ou que renovaram a sua consagração) foram: Albânia, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Guatemala, Hungria, Índia, Quénia, México, Moldávia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Espanha e Timor Leste.

A Jesus através de Maria

Como se pode consagrar um país inteiro quando nem todos os seus habitantes são crentes em Deus? A consagração de um país é de fato uma consagração ofertada: não é uma consagração formal (que requer consentimento), mas uma intercessão para o país.

Na sua exortação apostólica Reconciliatio et poenitentia, João Paulo II explicou o processo:

Nas mãos desta Mãe, cujo «fiat», na expressão de muitos autores, assinalou o início daquela «plenitude dos tempos» que viu ser realizada por Cristo a reconciliação do homem com Deus e ao seu Coração Imaculado — ao qual tenho repetidamente entregado e confiado toda a humanidade, turbada pelo pecado e dilacerada por tantas tensões e conflitos — confio agora de modo especial esta intenção: que, por sua intercessão, a mesma humanidade descubra e percorra o caminho da penitência, o único que a poderá conduzir à plena reconciliação!

Isto implica, como diz João Paulo II, um caminho de conversão.

Tomando Maria como mãe, uma “dupla” proteção

Saint Louis Marie Grignion de Montfort, um grande devoto da Virgem Maria, explicou que consagrarmo-nos a Maria é como tomar a Virgem como mãe: “Consagrar-se a Maria é muito precisamente escolhê-la como Mãe, não só para a proteção física das nossas pessoas, mas ainda mais, e antes de mais, para lhe conferir por direito próprio a plenitude do poder materno sobre a nossa alma. A mãe, na família humana, tem poder sobre os seus filhos. Ela protege-os de duas maneiras. Protegendo dos perigos e ameaças, por vezes sem que eles sequer o saibam. Aconselhando-os e orientando-os, para que façam bom uso da sua liberdade”.

Embora respeitando a liberdade de cada pessoa, um ato de consagração exige uma conversão dos corações. Numa mensagem de rádio dirigida à Bélgica, Pio XII especificou: “Ao colocar as suas atividades pessoais, familiares e nacionais sob a égide de Maria, invoca-se a sua proteção e a sua ajuda em todos os seus esforços, mas também promete-se não empreender nada que a possa desagradar, e também conformar toda a sua vida à sua direção e pedidos”.

Portanto, se desejamos apoiar o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, é sem dúvida bom começar por converter as nossas almas e agir como homens e mulheres de acordo com o coração de Deus.

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