Nos Jogos Olímpicos, a Igreja propaga os ideais de paz e fraternidade

Revezamento da tocha olímpica nas escadarias da Basílica de Sacré Coeur, em Paris, dia 15 / Holy Games/Divulgação

Por causa da erupção de um vulcão no Monte Vesúvio, em 1906, Roma desistiu de sediar a Olimpíada de 1908, transferida para Londres. No entanto, a ponte entre a Igreja e o movimento olímpico estava criada.

Jornal O São Paulo*

Atletas, treinadores e oficiais das delegações que participam dos Jogos de Paris 2024 foram abençoados em uma vigília de oração na Catedral de Saint-Denis, na Região Metropolitana de Paris, no dia 25, véspera da abertura da olimpíada, em missa com a participação de Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Esta é uma das ações que a Conferência Episcopal Francesa, em parceria com as dioceses locais, realizará durante esta edição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Paralelamente, acontecem os Holy Games (https://holygames.fr), com o propósito de ressaltar a relação da Igreja com o esporte, tornar a prática esportiva acessível aos mais vulneráveis e celebrar o ser humano e a fraternidade entre os povos.

O ESPORTE NA PERSPECTIVA CRISTÃ

Desde suas origens, a Igreja não está alheia ao esporte. Na carta aos Coríntios, por exemplo, São Paulo Apóstolo compara a vida espiritual a uma corrida esportiva, cujo prêmio não será uma coroa corruptível, mas a salvação eterna (cf. 1Cor 9,24).

Ao longo da história, também os pontífices destacaram o papel do esporte para o bem da humanidade. Assim o fez o Papa Francisco, em mensagem à Arquidiocese de Paris no dia 19, na qual apontou que o esporte “é uma linguagem universal que ultrapassa fronteiras, línguas, raças, nacionalidades e religiões; tem a capacidade de unir as pessoas, de favorecer o diálogo e a aceitação recíproca; estimula a superação de si, forma o espírito de sacrifício, fomenta a lealdade nas relações interpessoais; convida a reconhecer os próprios limites e o valor dos outros”. Ele lembrou, ainda, que os cinco anéis olímpicos entrelaçados “representam o espírito de fraternidade que deve caracterizar o evento olímpico e a competição esportiva em geral”.

A IGREJA E O MOVIMENTO OLÍMPICO

Há algumas vinculações entre o movimento olímpico e a Igreja Católica. O lema dos Jogos da era moderna citius, altius, fortius – “mais rápido, mais alto, mais forte” –foi pensado pelo frade dominicano Henri Didon (1840-1900), depois proposto ao Barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos modernos, e vem sendo adotado desde os Jogos de Paris 1924. Em julho de 2021, o COI acrescentou ao lema a palavra “juntos”, para indicar que o esporte também é uma via para a solidariedade.

Em 1905, Coubertin pediu ajuda à Igreja para impulsionar a quarta edição da Olimpíada, inicialmente prevista para Roma no ano de 1908. Como a prefeitura tinha dúvidas sobre a viabilidade do evento e muitos na sociedade italiana enxergavam o esporte como um instrumento de alienação das pessoas, o propositor dos Jogos encontrou-se com São Pio X, um entusiasta dos esportes.

“O Barão conseguiu amplo apoio do Papa, que via no evento algo internacionalista e que ajudaria na promoção da paz, uma preocupação constante da Igreja. E o Papa Pio X não só abençoou os Jogos como também incentivou que os católicos dele participassem”, explicou, ao O SÃO PAULO, Narayana Astra van Amstel, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná e autor da tese “A ética católica e o espírito do olimpismo”.

Devido à erupção de um vulcão no Monte Vesúvio, em 1906, Roma desistiu de sediar a Olimpíada de 1908, transferida para Londres. No entanto, a ponte entre a Igreja e o movimento olímpico estava criada.

CAPELANIA PARA OS ATLETAS

Assim como ocorreu em outras edições, Paris 2024 tem um espaço multirreligioso na Vila Olímpica, com capelanias cristã, budista, judaica, muçulmana e hindu.

Na capelania cristã, há 30 capelães católicos, em um ambiente com ícones cristãos e a Bíblia, e cujas atividades incluem a lectio divina e a leitura e a partilha do Evangelho.

“Neste espaço privilegiado de acolhimento, os atletas católicos do mundo inteiro poderão passar e ser abençoados em várias línguas. Temos momentos de oração e Confissão para eles, seus familiares e os oficiais das delegações”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Padre Omar Raposo, Reitor do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, um dos capelães em Paris 2024.

Padre Omar enalteceu o trabalho que a Igreja Católica na França tem feito para que os Jogos de Paris 2024 também sejam “uma experiência de acolhimento, fé, gratidão, diálogo e propagação dos valores olímpicos, que não estão distantes dos nossos valores cristãos, colaborando para a construção de uma cultura de paz”.

APOIO À TRÉGUA OLÍMPICA

“Enquanto a paz no mundo está seriamente ameaçada, auspicio calorosamente que todos respeitem a #tréguaolímpica, na esperança de resolver os conflitos e restabelecer a concórdia”, escreveu o Papa Francisco na rede social X, no dia 25, reiterando o pedido que fizera na mensagem para os Jogos de Paris, no dia 19, e no Angelus, no dia 21.

A trégua olímpica surgiu no século oitavo antes de Cristo e foi retomada na década de 1990. Ela prevê que as nações paralisem todos os conflitos a partir de sete dias antes da cerimônia de abertura da Olimpíada, até sete dias após o encerramento da Paralimpíada. Ela é sempre aprovada pelos países-membros da ONU. A atual começou a valer no último dia 19 e prosseguirá até 15 de setembro.

Em maio, na Conferência Internacional sobre Esporte e Espiritualidade, em Roma, o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, ressaltou que a trégua “é um exemplo concreto do espírito olímpico, uma de suas expressões, porque os atletas vêm dos cinco continentes para estar juntos, para competir, para se encontrar e para melhorar o horizonte de esperanças no mundo”.

Bispos franceses lamentam ‘cenas de zombaria ao Cristianismo’

A encenação do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, por cerca de dez travestis durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, na sexta-feira, 26, repercutiu negativamente em todo o mundo.

No sábado, 27, a Conferência Episcopal Francesa (CEF) lamentou que a cerimônia tenha incluído “cenas de escárnio e zombaria ao Cristianismo, as quais deploramos profundamente”.

Ainda no comunicado, a Conferência Episcopal Francesa manifestou: “Pensamos em todos os cristãos de todos os continentes que foram feridos pelo excesso e pela provocação de certas cenas”. Pelas redes sociais, Dom François Touvet, Presidente do Conselho de Comunicação da CEF, chamou o episódio de “insulto escandaloso e grave feito aos cristãos de todo o mundo”.

No mesmo dia, em entrevista à France Info, Michaël Aloïsio, porta voz do Comitê Organizador dos Jogos de Paris 2024, saiu em defesa do diretor da encenação: “Assumimos essa criatividade, assumimos que movemos as linhas e assumimos essa audácia de Thomas Jolly”.

Em coletiva de imprensa no domingo, 28, Anne Descamps, diretora de comunicações do Comitê Organizador dos Jogos de Paris 2024, declarou que “claramente, nunca houve a intenção de demonstrar falta de respeito a qualquer grupo religioso. Ao contrário, creio que com Thomas Jolly, realmente tentamos celebrar a tolerância comunitária”, disse, complementando: “Ao observar o resultado das pesquisas, acreditamos que esse objetivo foi alcançado. Se as pessoas se sentiram ofendidas, claro, lamentamos muito, muito”.

*Jornal da Arquidiocese de São Paulo

(Com informações de France Info, UOL e CEF)

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