“A religião precisa da arte, porque são duas as raízes da arte: a memória e a religião”
“A arte precisa da religião?”. Esta é a reflexão proposta pela direção dos Museus Vaticanos no primeiro encontro “Quinta-feira dos museus” de 2016, realizado na tarde da última quinta-feira.
A arte precisa da religião e a religião precisa da arte. Exemplo disto é o Juízo Universal , de Michelangelo, pintado na parede do altar da Capela Sistina. Um intercâmbio que – disse Padre Mark Haydu, Diretor Internacional dos Patrons of the Arts dos Museus Vaticanos durante sua conferência – até hoje deu muito ao mundo:
“Acredito que a parte essencial seja o ato de humildade por parte da Igreja em reconhecer a necessidade que tem dos artistas. Seria difícil comunicar toda a beleza da fé sem um espaço bonito, sem uma liturgia bonita, tudo seria um pouco pobre. Portanto, devemos também nós procurar envolver os artistas para criar espaços bonitos, música bonita, arte bonita”.
RV: Como poderia ser sintetizada a relação entre arte e Evangelho?
“A relação é sobretudo uma experiência – eu acredito – pessoal do artista com o Evangelho. Mesmo se nos encontrarmos no caso em que não seja tão crente, o sujeito é este e portanto o estuda: qualquer relação, portanto, parte da verdade, faz uma experiência pessoal e depois realiza a sua criação. E depois haverá aquilo que cria de bonito – pode ser um espaço, uma igreja, uma pintura, uma escultura – que tornará visível um aspecto do Evangelho para quem olha esta obra de arte, para quem reza naquele espaço. Assim, não somente pessoal, mas comunhão da Igreja que reza junto”.
Também pronunciou-se no encontro o Prof. Arnold Nesselrath, Delegado para os Departamentos Científicos e os Laboratórios dos Museus Vaticanos:
“A religião precisa da arte, porque são duas as raízes da arte: a memória e a religião; e a religião por isto gerou a arte. E um dos grandes dons do cristianismo é precisamente a arte ocidental que, depois da antiguidade clássica, existe até hoje e é justamente criada por esta raiz. O homem não vive somente de pão, mas também da Palavra e a Palavra, no final das contas, é arte e cultura: por meio da cultura se faz o anúncio do Evangelho. Pelo qual estão ligados e são fundamentais: um como conteúdo e o outro como forma, na liturgia, nos ambientes e nos objetos”.
RV: Na sua opinião, qual dentre as obras dos Museus Vaticanos, melhor expressa a relação entre religião e arte?
“Não se pode dizer qual é a obra primária dos museus. O que é muito importante é o Museu Etnológico, que mostra como a Igreja Católica dialoga com todas as culturas. Talvez, neste momento, este seja o setor mais importante que temos aqui, mesmo sendo um setor em que as obras não sejam muito conhecidas”.
“Um fecundo colóquio, o da Igreja com os artistas, que em dois mil anos de história nunca se interrompeu e se prospecta ainda rico de futuro no limiar do Terceiro Milênio”. Assim escrevia João Paulo II em 1999 na sua “Carta aos Artistas”. Antes dele, Paulo VI já havia sublinhado quão importante é o papel dos artistas para a religião. Em 2009, por sua vez, foi Bento XVI que encontrou os artistas na Capela Sistina, definindo-os como “custódios da beleza”. E também o Papa Francisco, no livro “A minha ideia de arte”, editado pelos Museus Vaticanos, afirma: “A arte, além de ser um testemunho crível da beleza da Criação, é também um instrumento de evangelização”. (JE)
Fonte: Rádio Vaticano