“Não basta denunciar os males, é preciso indicar caminhos para a solução dos problemas e colaborar efetivamente para mudar essa situação”. Dom Odilo
Por ACI Digital / Foto: Google
Frente ao atual cenário político, econômico e social pelo qual o Brasil vem passando, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer assinalou que “não dá para negar que o momento é muito delicado” e que é indispensável “a retomada urgente dos caminhos da ética e da moral”.
Em um artigo intitulado “Para onde vai o Brasil?”, o Purpurado lembrou que nos últimos meses os noticiários nacionais estão focados no mesmo assunto, “os escândalos de corrupção no Brasil”.
“E não é para menos!”, expressa. “O que tem aparecido nas denúncias e investigações é muito grave, corroborando a suspeita de que o desvio de bens públicos explica a carência de recursos para atender às necessidades prioritárias da população, como saúde, educação, saneamento básico, moradia, segurança, proteção social dos mais vulneráveis e infraestrutura em geral”.
O desvio de dinheiro público para benefícios privados, de acordo com o Arcebispo, explica porque “a atividade econômica é onerada com uma carga tributária sufocante”. Além disso, estando presente na esfera pública e econômica, a corrupção pode se difundir também para as demais pessoas, que, diante do “mau exemplo que vem de cima”, podem ser motivadas a seguir pelo mesmo caminho “das vantagens fáceis e ilícitas”.
Nesse sentido, recorda a recente declaração “sobre o grave momento nacional” emitida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao final da Assemblei Geral realizada de 26 de abril a 5 de maio, em Aparecida (SP).
Este texto lista “vários motivos de apreensão para a população brasileira, perplexa diante da delicada conjuntura política, econômica, social e moral por que o Brasil vem passando. Não dá para negar que o momento é muito delicado”, manifesta.
Citando as “mazelas ligadas à corrupção, à violência contra a pessoa e a vida, ao degrado ambiental, à perda de qualidade da educação e do atendimento à saúde, ao desmantelamento da família”, entre outros, Dom Odilo reforça a posição dos bispos brasileiros, os quais “apontam um fator comum e constante: a perda ou o desprezo dos referenciais éticos e dos princípios morais nas relações pessoais e sociais e nas instituições públicas”.
“Se cada indivíduo ou organização pautar a sua conduta por interesses subjetivos, não os relacionando com o que é bom, digno, justo e honesto também em relação aos outros, só pode aparecer o caos no convívio social”, sublinha.
Por isso, indica, “a retomada urgente dos caminhos da ética e da moral é condição indispensável para que a sociedade consiga lutar contra os males mais evidentes que a afligem”.
Neste sentido, é necessário respeitar as “questões essenciais à vida social, econômica e política, como a primazia da pessoa e de sua inalienável dignidade sobre o mercado e do trabalho sobre o capital”, bem como “do Estado sobre o mercado”.
Além disso, o Purpurado reforça a declaração da CNBB de que “é preciso construir uma democracia verdadeiramente participativa” frente ao “desencanto e descrédito de políticos e da política e até mesmo dos poderes públicos”.
O Cardeal Scherer alerta que a “rejeição da representação partidária e até do exercício da política” seria “um grave equívoco, pois criariam um clima favorável ao surgimento de propostas populistas, autoritárias e intolerantes de exercício do poder”.
Soma-se a esta situação o crescimento da “agressividade no meio da população”. E, neste ponto, o Arcebispo chama a atenção para o papel das mídias sociais que, “muitas vezes levadas por informações parciais, desempenham um papel relevante na difusão de ideias e na agregação de tendências”.
“Mais que à agressividade, porém – adverte –, essa crescente polarização de posições deveria levar ao diálogo e a uma dialética propositiva na busca de caminhos em benefício do bem comum”.
Por fim, Dom Odilo ressalta que “não basta denunciar os males, é preciso indicar caminhos para a solução dos problemas e colaborar efetivamente para mudar essa situação”.
Neste sentido, concluiu afirmando que, além do “exercício fiel e honesto” de suas atribuições por parte dos “legítimos representantes do poder público”, a população também deve “fazer bem a sua parte, vigiando atentamente o desempenho dos detentores de poder”.