Seu Boletim Direto do Vaticano de 28 de fevereiro de 2023
I. Media para Aleteia
1 – Papa Francisco planeja uma reforma “sem precedentes” nas universidades pontifícias
2 – Terra Santa, Ucrânia, Burkina Faso, migrantes… o Angelus do Papa
2 – Papa: A misericórdia não é a suspensão da justiça, mas seu cumprimento
1 – PAPA FRANCISCO PLANEJA UMA REFORMA “SEM PRECEDENTES” NAS UNIVERSIDADES PONTIFÍCIAS
Por Camille Dalmas – “É urgente iniciar um processo que leve a uma sinergia efetiva entre as instituições acadêmicas”, disse o Papa Francisco aos representantes das 22 instituições acadêmicas pontifícias de Roma, que vieram cumprimentá-lo e a muitos estudantes e professores na Sala Paulo VI no Vaticano, em 25 de fevereiro. Ele os convidou a “tomar nota” do fato de que a multiplicidade de estruturas universitárias eclesiásticas em Roma, herdadas do passado, corre agora o risco de “desperdiçar energia preciosa” e ameaça “retardar” a transmissão da “alegria evangélica do estudo”.
O pontífice sublinhou o declínio dos recursos “econômicos e humanos” dos quais estas instituições sofrem, mas também como a pandemia afetou seu funcionamento, na medida em que elas são frequentadas principalmente por estudantes internacionais.
Não agir isoladamente
O Papa convidou, portanto, as universidades e institutos pontifícios a enfrentar estas dificuldades não de forma “defensiva”, mas considerando-as como “um novo ímpeto para o futuro”. Alertando-os contra a auto-referencialidade, ele também os encorajou a lançar um processo de reforma, prevendo “desenvolvimentos corajosos e, se necessário, sem precedentes”.
O Papa Francisco anunciou que o Dicastério de Cultura e Educação, cujo prefeito é o cardeal português José Tolentino de Mendonça, seria o arquiteto desta próxima reforma.
Ele terminou seu discurso com a imagem de Cristo como o “maestro de uma orquestra” cujas mãos dirigem toda a humanidade e, ao mesmo tempo, cada pessoa intimamente. Ele encorajou as instituições universitárias pontifícias a não agirem como “solistas”, mas a “formarem um coro” cultivando a harmonia.
Um primeiro relatório conjunto sobre as instituições pontifícias em Roma
A reunião foi uma oportunidade para os reitores das instituições apresentarem seu primeiro relatório conjunto, que abrange o ano acadêmico de 2021/2022. O relatório, que foi apresentado oficialmente à imprensa em 24 de fevereiro, foi feito por ocasião do quinto aniversário da publicação da Constituição Apostólica Veritatis Gaudium (2018), com a qual o Papa Francisco reformou as universidades pontifícias.
O pontífice havia focalizado sua reforma em quatro objetivos: a transdisciplinaridade, a criação de redes para encontrar respostas concretas aos problemas da humanidade, o retorno à fonte querigmática do ensino cristão e o desenvolvimento da experiência comunitária orientada para a “alegria da verdade”.
As 22 instituições acadêmicas pontifícias envolvidas estão divididas em quatro categorias: universidades (7), faculdades (4), centros (2) e institutos (9). Elas foram fundadas entre 1551 e 1981, e quinze delas são confiadas a instituições eclesiásticas – por exemplo os jesuítas para os “gregorianos” ou os dominicanos para o Angelicum.
8% dos estudantes romanos
Ao todo, 15.634 estudantes estudaram em Roma em 2021 e 2022. Eles representam 8% dos estudantes da Cidade Eterna, incluindo universidades e colégios públicos e privados. 2.056 professores lecionam nestas universidades, uma proporção muito alta de um professor para cada seis alunos em média. Estas instituições também operam com a ajuda de 459 funcionários na área administrativa.
Estas instituições também são internacionais: em média, há um estudante italiano para cada oito estudantes não italianos, estes últimos vindos de 124 outros países do mundo e de todos os continentes. As instituições romanas são filiadas a 221 outras instituições no mundo inteiro.
A matéria mais comum ensinada nestas instituições é teologia (22,1% dos estudantes), que é oferecida em 15 das 22 instituições romanas, seguida pela filosofia (13,2%) e pelo direito canônico (7,4%). As instituições oferecem cursos em quase 30 disciplinas diferentes (ver gráfico abaixo). No total, 3.086 graus foram concedidos em 2021-2022.
As instituições pontifícias são monitoradas pela Agência da Santa Sé para a Avaliação e Promoção da Qualidade das Universidades e Faculdades Eclesiásticas, um órgão criado por Bento XVI em 2007.
2 – TERRA SANTA, UCRÂNIA, BURKINA FASO, MIGRANTES… O ANGELUS DO PAPA
Por Camille Dalmas – “Ainda estou recebendo notícias dolorosas da Terra Santa, muitas pessoas mortas e também crianças”, disse o Papa Francisco após o Angelus de 26 de fevereiro de 2023. O pontífice também pediu orações por Burkina Faso, Ucrânia, Síria, Turquia e pelos migrantes que se arrastaram pela costa italiana.
Na Terra Santa, o Papa advertiu contra uma “escalada de violência” e pediu que “o diálogo prevaleça sobre o ódio e a vingança”. “Rezo a Deus pelos palestinos e israelenses, para que possam encontrar o caminho da fraternidade e da paz com a ajuda da comunidade internacional”, disse ele. As tensões aumentaram acentuadamente esta semana com vários confrontos, seguidos de um chamado às armas por parte do governo israelense.
Ataque terrorista em Burkina Fasso e naufrágio em Crotone
O Papa também disse estar “muito preocupado” com a situação em Burkina Faso, “onde os ataques terroristas continuam”. Ele nos convidou a rezar pelo povo deste país, para que a violência “não os faça perder a confiança no caminho da democracia, da justiça e da paz”. 51 soldados burquinenses foram mortos em um ataque terrorista no dia 17 de fevereiro.
O Papa Francisco também falou sobre o naufrágio de um barco de migrantes na costa da Calábria, perto de Crotone, na noite de 25-26 de fevereiro. “40 mortos já foram encontrados, entre eles muitas crianças”, disse o pontífice. Ele disse que estava orando pelas vítimas, pelas pessoas desaparecidas e pelos outros migrantes que sobreviveram. Ele também agradeceu àqueles que os ajudaram e àqueles que os estão acolhendo, dizendo que eles são apoiados pela Virgem Maria. Um momento de silêncio foi observado na Praça de São Pedro.
O pontífice então se referiu brevemente à “tragédia da guerra na Ucrânia” que vem ocorrendo há mais de um ano. Finalmente, ele nos convidou a não esquecer o sofrimento dos povos sírio e turco, vítimas do terremoto.
3 – PAPA: A MISERICÓRDIA NÃO É A SUSPENSÃO DA JUSTIÇA, MAS SEU CUMPRIMENTO
Por Camille Dalmas: Por ocasião da abertura do 94º ano judicial do Tribunal da Cidade do Vaticano em 25 de fevereiro, o Papa Francisco destacou o aumento do número de julgamentos relacionados tanto com disputas canônicas quanto civis no Vaticano, “especialmente na área de gestão patrimonial e financeira”. Ele insistiu que o problema não eram os julgamentos e o risco de escândalo “mas os fatos e os comportamentos que os originam e os tornam dolorosamente necessários”.
“Tal comportamento por parte dos membros da Igreja prejudica gravemente sua eficácia em refletir a luz divina”, disse o Papa. Diante de tal “comportamento que mancha o rosto da Igreja e causa escândalo na comunidade dos fiéis”, ele apelou para a justiça, que, segundo ele, permite “encontrar o equilíbrio necessário entre justiça e misericórdia”.
A justiça do Vaticano exercida em nome do Papa
“A misericórdia não é a suspensão da justiça, mas seu cumprimento”, insistiu o pontífice. Ele encorajou os representantes da justiça do Vaticano, a quem recebeu no Palácio Apostólico, a realizarem um “discernimento rigoroso” para se oporem a uma “moralidade de escritório fria no tratamento das questões mais delicadas”.
Estabelecidos em 1929 na época da criação do Vaticano pelo Acordo de Latrão, os tribunais da Cidade do Vaticano – de primeira instância, recurso e cassação – operam com base em seus próprios códigos de processo civil e penal, baseados naqueles estabelecidos na Itália em 1913. Os juízes e promotores de justiça vinculados a estes tribunais exercem seu poder em nome do Pontífice.
No início da audiência, o Papa Francisco foi recebido pelos principais representantes do sistema judicial da Cidade do Vaticano, incluindo o Promotor de Justiça Alessandro Diddi e o Juiz Giuseppe Pignatone, que fizeram um breve discurso cada um. O trabalho dos dois, encarregados do atual julgamento do caso do chamado “edifício de Londres”, tem sido particularmente observado desde o lançamento deste processo em julho de 2021.