Curiosidades: O presidente que convocou cientistas para fechar a “porta do inferno”

Cratera de Darvaza arde em chamas ininterruptamente há mais de 50 anos

Martha de Jong-Lantink CC

Francisco Vêneto / Aleteia

Popularmente conhecida como “a porta do inferno”, a cratera de Darvaza é um grande campo de gás natural localizado na província de Ahal, no Turcomenistão. O que chama fortemente as atenções é que a cratera está em chamas, ininterruptamente, desde 1971, com seus ricos depósitos de gás natural alimentando incessantemente as labaredas. O buraco exala um forte cheiro de enxofre que pode ser sentido à distância. Isto, junto com o fogo que nunca se apaga, gerou inevitáveis associações com o inferno.

A cratera tem cerca de 70m de diâmetro e fica num vilarejo de mais ou menos 350 habitantes, principalmente turcomanos da tribo Teke, de estilo de vida semi-nômade.

Em 1971, engenheiros da então União Soviética perfuraram a região em busca de gás e petróleo, mas, durante as escavações, o chão sob a plataforma de perfuração cedeu e uma grande cratera se abriu, engolindo o equipamento. Grandes quantidades de gás metano foram lançadas à atmosfera. Os cientistas consideraram mais seguro queimar os gases nocivos do que extraí-los do subsolo.

As expectativas eram de que o gás seria consumido em questão de dias – mas ele continua queimando cinquenta anos depois de ter sido incendiado. Nem mesmo atualmente há previsões de quando as chamas se extinguirão, porque não se sabe qual é a quantidade de gás que ainda resta nas profundezas da “porta do inferno”.

Entretanto, o presidente do Turcomenistão, Gurbanguly Berdimuhammedov, está disposto a dar um basta nas chamas da cratera: segundo o jornal estatal Neytralny, ele pediu que o seu gabinete dê um jeito de fechar de uma vez por todas a “porta do inferno”. O mesmo jornal noticiou que o vice-primeiro-ministro “foi instruído a reunir cientistas e, se necessário, contratar consultores estrangeiros” para extinguir o fogo.

Turcomenistão: o inferno vai muito além da cratera

A população do país, enquanto isso, é literalmente infernizada por fatores que vão muito além da “porta do inferno”.

Berdimuhammedov, que comanda o Turcomenistão há 15 anos, é um líder autocrático ávido por construções faraônicas, principalmente na capital, Ashgabat, que conta com novos, gigantescos e reluzentes edifícios governamentais, quase todos em ostensivo mármore branco – e em grande parte vazios. Embora seja muito burocrático visitar o país, que recebe apenas algumas dezenas de milhares de turistas por ano, a capital ganhou também um moderno e descomunal aeroporto com terminal em forma de pássaro, ao custo de 2,3 bilhões de dólares.

Em 2018, o ditador resolveu que todos os carros que circulam pela capital devem ser pintados de branco – no máximo, seria tolerado também o prata. E por que branco? Porque é a cor favorita de Gurbanguly Berdimuhammedov. A caprichosa ordem, além do mais, veio sem aviso: carros que não eram brancos começaram simplesmente a ser rebocados. Quando os donos iam buscá-los, eram informados de que deveriam pintá-los de branco. A regra já valia para funcionários do governo desde 2014 e passou a estender-se a todos os moradores da capital. Cada proprietário de veículo deveria arcar com os custos da pintura, embora incompatíveis com a maioria dos salários no país: a economia, já na época, apresentava inflação descontrolada e um índice de desemprego de exorbitantes 60% da população.

Bjørn Christian Tørrissen – CC BY-SA 4.0

De acordo com o índice anual de Liberdade de Imprensa elaborado pelos Repórteres Sem Fronteiras, o Turcomenistão está em 178º lugar – numa lista de 180 países.

A nação também costuma figurar entre os piores países do mundo em termos de liberdade religiosa, de acordo com os relatórios da Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF). Neste quesito, ele faz companhia a países como China, Egito, Eritreia, Irã, Iraque, Nigéria, Coreia do Norte, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Vietnã.

É inevitável observar algo em comum entre esses países: ou sofreram/sofrem forte opressão comunista, ou sofrem forte influência do radicalismo islâmico, ou as duas coisas ao mesmo tempo. O Turcomenistão se enquadra no terceiro cenário. Durante os seus 69 anos de comunismo, sofreu a perseguição religiosa que vem atrelada indissociavelmente a esse regime, com todas as crenças sendo atacadas como superstição, a prática religiosa sendo proibida, a grande maioria dos templos de qualquer fé sendo fechada e o ateísmo de Estado sendo oficialmente imposto a todos. Com a queda da URSS, a religião voltou a ser permitida, mas com muitas restrições para qualquer crença que não fosse o islã. Hoje, 89% da população é muçulmana, 9% são cristãos ortodoxos e 2% se declaram sem religião.

O inferno segundo a Igreja

Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 212, registra que o inferno “consiste na condenação eterna daqueles que, por escolha livre, morrem em pecado mortal. A pena principal do inferno é a eterna separação de Deus, o único em quem o homem encontra a vida e a felicidade para que foi criado, e a que aspira. Cristo exprime esta realidade com as palavras: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’ (Mateus 25,41)”.

Ou seja, o inferno é a eterna privação de Deus, livremente escolhida por aqueles que rejeitam a Deus com pleno discernimento dessa escolha e com plena liberdade em fazer essa escolha. Como Deus nos criou livres e respeita profundamente a nossa liberdade, Ele também aceita essa escolha de cada um. Portanto, não é Deus quem manda alguém para o inferno: é a própria pessoa que escolhe o inferno, privando-se de Deus de modo definitivo e irrevogável.

O Antigo Testamento menciona o castigo eterno dos que rejeitam o Deus verdadeiro e, com plena consciência e liberdade, optam por adorar deuses falsos, como se lê em Isaías 66,24. Outras passagens bíblicas, como Judite 16,17, ou o Eclesiástico 7,17;21,9, também falam do castigo eterno.

No Novo Testamento, o inferno é citado em parábolas como as do joio e do trigo (cf. Mateus 13,24-30.36-43), da rede de pesca (cf. Mateus 13,47-50), dos convidados à ceia (cf. Lucas 14,16-24), das dez virgens (cf. Mateus 25,1-12; Lucas 13,27-29) e do rico e Lázaro (cf. Lucas 16,19-31). Uma das passagens mais enfáticas sobre o inferno é a de Mateus 25,33-46, que trata do juízo final.

Particularmente significativo é o trecho de Marcos 3,28-29, que afirma que todo pecado é perdoado, menos o pecado contra o Espírito Santo – por consistir, precisamente, na rejeição obstinada à graça de Deus. É contra o Espírito Santo porque é Ele quem continuamente nos inspira e nos convida a converter-nos a Deus.

Vale recordar que Deus é infinitamente misericordioso e, por Sua própria vontade, não abriria a porta do inferno para a entrada de ninguém. No entanto, Ele também é infinitamente respeitoso da nossa liberdade. Santo Agostinho, a propósito, muito bem o resumiu nesta célebre frase: “Aquele que te criou sem ti não te salva sem ti” – ainda que seja graças a um lampejo de sincero arrependimento no instante final da vida (mas é mais prudente não esperar para abraçar a Deus só no último segundo).

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