Brasão da Basílica de São Sebastião
Elementos iconográficos
Por Frei Cassiano Gonçalves
Brasão do Vaticano
Representado com a Tiara Papal que contem três coroas que representa as três dimensões da Igreja de Cristo: A Igreja Militante, Padecente e Profética. As gemas que nelas estão presentes, Safira, Esmeralda e Rubi, sendo que as duas primeiras, safira e esmeralda remonta a visão do profeta no antigo.
Safira – No Ex 24,10 narra que Deus ao se apresentar a Moisés e aos Anciãos de Israel, debaixo de seus pés havia um pavimento de safiras. A safira é especial referencia à proximidade de Deus e à irradiante beleza do céu, ventre do noivo celeste é “ um bloco de Marfim cravejado de safiras (Ct 5,14). Já em Tobit, homem temente a Deus , vê a Jerusalém restaurada com enfeites de safiras e esmeraldas […] (Tb 13,16s). Já em Isaias (54,11s) quando Sião é abatido por uma tempestade diz: Certamente, revestirei de carbúnculo as tuas pedras, estabelecerei os teus alicerces sobre as safiras, farei de rubis suas ameias e de berílio as tuas portas, de pedras preciosas todas as tuas muralhas”.
As pedras preciosas representam sempre a Suma Beleza e as promessas de Deus para com seu povo. Na Idade Média, a safira tomou uma conotação simbólica de santidade: como guardas da fé e preservadores das virtudes, é por esta razão que os bispos usavam anéis de safira. A esmeralda está presente no peitoral do sacerdote do antigo testamento junto com outras onze pedras, sua cor verde remonta a fertilidade e a esperança, também era referencia a pureza e a castidade, tornando-se símbolo de São João Evangelista e da Virgem Maria.
Rubi, devido à sua cor vermelho sangue, traz em sua simbólica a alusão a realeza, maternidade e martírio. Presente na coroa, suas imperiais são construídas a partir da configuração da flor de lis, símbolo conhecido para identificar a realeza, mas esse elemento tomou esta conotação no sec. IV quando o rei Constantino após sua conversão tomou esta flor, que por sinal é um lírio, como símbolo de sua conversão. Só que esta tradição se perdeu com o tempo, ficando somente a informação de sua simbólica como realeza.
Sendo um lírio incomum, tem como nome latino de Lirium Cessem, que apresenta em sua simbólica a saudade do povo à espera do Messias. Esta flor também se apresenta nas representações da Anunciação. No coroamento da tiara papal, está a Cruz sobre o Globo terrestre, que representa a Redenção do gênero humano pelo sacrifício de Cristo.
Pendem da Tiara Papal a ínfula de cor vermelha, seu significado complementam ao da estola que significa o poder sacerdotal e a ínfula a plenitude do sacerdócio. Cruzam sobre a ínfula duas chaves, uma dourada e a outra prateada. Representa pela chave dourada o céu e a prateada a terra. Remonta o poder que Cristo legou a Pedro: Tudo que ligares na terra, será ligado no céu e tudo que desligares da terra será desligado do céu.
Brasão do Santuário Basílica de São Sebastião
O Brasão da Basílica tem formato semioval. A forma ovalada remonta aos brasões das Soberanas, já a forma inferior remonta os escudos dos guerreiros da antiguidade. Na união das duas formas, o intuito foi mostrar a Soberania da Mulher Igreja unindo com a coragem de sua descendência na defesa da fé. Na parte central há uma faixa em vertical que na simbólica heráldica simboliza a lança do guerreiro, e a margem branca que envolve o escudo representa a veste dos guerreiros que retornam da batalha sem suas vestes manchadas de sangue, visto que a batalha do Cristão é sempre promover a vida.
Retomando a simbólica da faixa central vertical também traz o sentido da coluna que conduziu o povo pelo deserto, o Amor de Deus para conosco. Dentro está o Umbrelino, que na igreja era usado para guardar/cobrir no intuito de proteger o Santíssimo Sacramento, hoje se utiliza o palio. Ressignificado de sua utilidade mostra que o espaço sagrado elevado à Basílica é território Papal.
Na parte superior do escudo, logo abaixo das chaves encontra-se uma concha/ostra que contrapõe a perolo que está na parte inferior do escudo. A concha/ostra tem a conotação da missionariedade, a Igreja é missionária, mas na Idade Média a ostra com a pérola trazia de maneira simbólica e catequética a representação da Divina Encarnação do Verbo de Deus, algo tão precioso! Acreditava-se que a fecundação da ostra era ocasionada pelo orvalho celeste sem intervenção terrena, que vai de encontro ao Velo de Gideão no Antigo Testamento, em que Deus se manifesta no orvalho que molhou somente a pele do carneiro, aos quais os santos padres associaram com ação divina na Encarnação do Verbo. Desta forma, está presente nestes símbolos concha/ostra e pérola a simbólica das duas naturezas de Cristo a Divina e a Terrena.
As cores iconográficas presente no escudo, chamado esmalte, são três: Azul, Vermelho e Branco. Tornam-se as cores da França, pertinente ao local de nascimento do santo mártir que é padroeiro desta cidade e deste templo: São Sebastião.
Visto que alguns elementos que corroboram para a sua posição de guerreiro já foram contemplada, a lança e a veste.
Na iconografia das cores, o azul, traz o simbólico do celeste, da transcendência, intimidade com o sagrado e do encontro com o Divino. O azul é associado à divindade, no contexto teológico desde bizâncio, lembrando que este templo encerra em sua arquitetura influência bizantina da Igreja de Santa Sophia juntamente com a renascentista/barroca da Igreja de São Pedro – Vaticano entre outros elementos de períodos artísticos que a enriquecem, foi estabelecida a cor própria de Deus e das pessoas que Ele transmite a sua santidade. Michel Quenot, cita em seu livro “ O Ícone”: O azul oferece uma transparência que se verifica no vazio da agua, do ar ou do cristal. O olhar penetra aí e vai ao infinito e chega a Deus”.
Nos quadrantes, onde a cor predominante é o azul encontram-se elementos peculiares de cunho catequético que faz parte da tradição da igreja, embora não utilizado atualmente mas estão presentes em nossa igreja. O animal mítico de influencia persa presente na parte superior esquerdo do escudo é um grifo. Na iconografia cristã deste a igreja primitiva, esse animal que é metade águia e metade leão, tem uma simbólica que fala alto em nós, ele representa Jesus Cristo em sua dualidade o celeste ( simbolizado pela águia ) e a terrena ( simbolizado pelo leão). Os animais que constitui o grifo estão presente nos escritos dos profetas do Antigo Testamento, como por exemplo em Isaias, como também no Apocalipse, a Revelação. Também tanto o leão que estão presentes nos capitéis das colunatas da fachada desta igreja como as águias presentes nos capiteis deste baldaquino a sustentar o micro cosmos, bem como o grifo, propriamente dito que está presente em nosso coro atrás do baldaquino. O grifo significa o Amor incondicional. Sendo assim está presente no escudo o Cristo que é a cabeça da Igreja que é seu corpo.
No quadrante inferior direito, de esmalte azul, encontra-se uma rosa simples, porém não deixa de ser uma rosa com toda a sua carga simbólica. É uma rosa capuchinha. Uma rosa bicolor apareceu mais ou menos em 1540, quinze anos após a reforma capuchinha em 1525, possivelmente de uma mutação. Tem flores simples, com um centro luminoso em cor laranja e amarela na parte externa, torna-se mãe de todas as rosas cultivadas modernas de cor amarela e laranja.
A ordem capuchinha é filha de uma reforma, os frades quiseram levar uma vida mais simples retornando a fonte que é São Francisco de Assis. Mendicantes e austeros, a simplicidade dos frades encantava e aproximava as pessoas, tendo sempre em seu interior a Luz e o Amor de Jesus Cristo afim de transmitir a todos que a eles se aproximavam, da reforma capuchinha refiro-me aos frades, também nasceu o ramo feminino e outros belas rosas modernas que anunciam o evangelho e o amor de Deus Uno e Trino a todos.
A rosa representa a transcendência e a missão de todos os cristãos, sendo os espinhos as dificuldades da missão em sua ampla e a flor o encontro, o vislumbrar da Palavra d’Aquele que amamos. Também a rosa é símbolo dos mártires, que deram sua vida em defesa da fé e encontraram a felicidade no paraíso. Novamente aludindo ao Mártir São Sebastião, padroeiro deste templo. A rosa torna-se também símbolo de Maria, tanto na igreja oriental presente na Oração do Acatistos, como na igreja ocidental no Concilio de Efeso em que clamam Maria como Rosa. Acredita-se que o nome da cidade em que nasceu a Virgem Maria, Nazaré, significa flor. Tendo esta primícias, o contexto corrobora com a profecia da Arvore de Jessé que diz: Da cepa nasceu a rama, da rama nasceu a flor e da flor nasceu Maria e de Maria o Salvador. Encerra-se nela o caminho do trágico para o sublime.
Os quadrantes superior direito e inferior esquerdo, o esmalte é de cor vermelha, que na iconografia das cores, representa divindade, realeza, fertilidade e martírio. A igreja é santa e pecadora, porém todos nós somos chamados a ser profetas, reis e sacerdotes revestidos de Cristo pelo batismo, e os mártires foram aqueles que alvejaram suas vestes no Sangue Divino e Real do Cordeiro Imolado. No quadrante inferior está as insígnias de São Sebastião, oficial romano que elevou até as ultimas consequências seu amor por Jesus, o Cristo, e a sua missão de anunciar e defender a fé católica diante de todos.
A cor branca que se encerra na moldura do brasão e na faixa central representa a Paz inquietante do Cristão, mas também é a cor de Deus. Simboliza a Luz, primeira criação de Deus, a partir dela tudo foi criado. As cores e as coisas são visíveis a partir dela. Representa a Verdade…. Deus é Luz, e o Cristo é o Sol sem ocaso. Tem a simbólica da pureza.
Na filactéria ( faixa vermelha ), está escrito: Antequam miles, christianus. Significa: Antes de ser soldado sou Cristão. Frase que mostra a missão assumida por São Sebastião. A convicção que somos chamados a testemunhar diante deste mundo desafiador.
Para finalizar, numa configuração visual que sai da pérola no quadrante inferior até o alto da cruz no quadrante superior da tiara Papal, se faz uma mandorla (configuração de uma amêndoa ). Esta intersecção ( espaço formado pela união de dois círculos ) é representa a “ponte” entre as dualidades ( círculos ) que representam o céu e a terra. É o lugar de intercessão. Nas igrejas românicas e góticas, o Cristo e em alguns casos a Virgem Maria estão dentro deste elemento presente nos tímpanos das citadas igrejas, mostrando sua intercessão diante de Deus Pai. Eles intercedem pela Igreja diante do Pai Celeste.