Gaúcho de Veranópolis, o frade capuchinho dedicou-se a obras sociais e inúmeros trabalhos religiosos no decorrer de sua vida no RJ
Por Emilton Rocha / Pascom
A Arquidiocese do Rio de Janeiro publicou edital de aceitação, em 7 de outubro deste ano, no qual declara frei Nemésio Bernardi Servo de Deus, primeiro passo para dar início ao processo de beatificação e canonização do inesquecível frade capuchinho, falecido em 4 de fevereiro de 2016, às vésperas de completar 89 anos. Com o edital, foi enviada a Roma carta ao Prefeito da Congregação da Causa dos Santos contendo as assinaturas dos bispos do regional, com um pedido de Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, para a aceitação da abertura de processo de beatificação.
– Agora que esses documentos foram enviados ao Postulador Geral frei Carlo Calloni, aguardaremos para que ele faça o pedido à Congregação da Causa dos Santos, a partir de então termos a aprovação e fazermos o processo de abertura que fica na dependência da resposta de Roma – diz frei Almir da Silva, vice-postulador, nomeado pela Cúria Geral. Em caso positivo, esses são apenas os primeiros passos para o início do processo de beatificação de frei Nemésio.
– Atualmente, o que estamos pedindo nas missas são os relatos de vida do povo com frei Nemésio (testemunho da vida do frade). Todo aquele que conviveu com ele e que tenha encontrado com Deus através do exemplo de vida de frei Nemésio, estes são relatos de fé a partir de experiência com frei Nemésio e que estamos recolhendo. Também as pessoas que tiveram contato com ele e que possam escrever algo, caso tenha algum material fotográfico, filmagens com ele que traga para nós, assim como aqueles que tenham alcançado alguma graça, podem fazer o mesmo através de pedido para que seja entregue diretamente a mim, sob sigilo – acentua.
O inquérito diocesano é a fase mais importante e delicada do processo o qual destina-se a recolher as provas documentais e, sobretudo, testemunhais do Santo Servo de Deus, como é denominado aquele do qual se promove a Causa de Beatificação e Canonização. O Inquérito Diocesano tem a finalidade de esclarecer toda dúvida a respeito, segundo uma forma jurídica bem precisa.
Para ajudar neste processo, os fiéis e interessados estão instados a fornecerem toda e qualquer notícia útil referente à causa que seja de caráter pessoal ou privado., documentos, cartas e outros materiais. Os interessados em colaborar no processo podem enviar materiais que comprovem a fama de santidade do religioso para a Cúria Provincial, aos cuidados de Frei Almir da Silva, Rua Haddock Lobo, 266 – Tijuca – Rio de Janeiro, RJ, CEP 20260-142
Frei Nemésio Bernardi
Gaúcho de Veranópolis (RS), frei Nemésio Bernardi nasceu no dia 9 de março de 1927. Dizia que era carioca de coração e de adoção. Tendo vindo morar no Rio de Janeiro em 1964, a princípio prestando serviços na hospedaria do convento, foi o responsável em deixar os quartos limpos para os frades, principalmente oriundos da sua região, que vinham à capital fazer, entre outras coisas, tratamento de saúde ou resolver algum outro assunto no Rio, então capital federal. O sacerdote foi cozinheiro do convento por muito tempo.
Professou a sua vocação religiosa no dia 6 de janeiro de 1944, e ordenado sacerdote em 21 de janeiro de 1984. “Um sacerdote simples, que fazia as coisas simples na vida, não deixando de limpar o refeitório. Viveu a sua vida de forma simples, como deve ser a vida de todos nós. E não deixou de fazer as coisas que são próprias de um homem consagrado e de uma pessoa que abraçou o ministério sacerdotal” – disse à época de sua morte frei Luiz Carlos Siqueira, então Ministro Provincial da Ordem dos Capuchinhos nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Sul de MG.
Segundo ele, frei Nemésio celebrava a missa na primeira sexta-feira de manhã, tomava o café e ia atender as confissões até o meio-dia, retornando às 16h, para continuar o seu trabalho religioso até atender a última pessoa. “Era um homem prático, que resolvia as coisas de forma mais rápida possível”, afirmou.
Frei Jorge de Oliveira, reitor e pároco do Santuário Basílica de São Sebastião, lembra que foi ordenado diácono juntamente com frei Nemésio, em 1982, conta que em seus momentos finais o frade, que sofria de câncer, “sentia muitas dores e sofria muito, mas que ele jamais reclamava e nunca perdia o humor”. “Era muita delicadeza e serenidade.”
Em seus escritos, há um texto que diz: “A morte é um doce sono, que nos faz acordar nos braços do Pai, para os que amam. Ela (a morte) proporcionará o grande encontro com Deus de todas as graças. Ela será a nossa última oração e o começo de nossa suprema ventura. Não há como viver sem caminhar para a morte. Cada dia morremos um pouco. A vida e a morte andam sempre de mãos dadas.”
Segundo amigos, uma das suas características mais importantes era a sua disponibilidade para atender a chamados para bênçãos ou visitas a enfermos, ocasião em que ele largava tudo para responder aos apelos. “Frei Nemésio estava sempre a atender alguém no hospital ou em casa, a qualquer hora do dia ou da noite para dar a unção dos enfermos. Ele pegava seu boné e sua pasta e ia dar a unção. Tinha uma dedicação e uma disponibilidade incríveis”, lembra Eliane Belinha, coordenadora da Pastoral da Música da Basílica.
Processo de Beatificação e Canonização
Servo de Deus: Após cinco anos da morte do candidato, a primeira etapa é o Vaticano expedir uma autorização com base em dados enviados pela Arquidiocese local atestando não ter nada contra a abertura do processo. A partir deste momento já é possível fazer santinhos para divulgação da devoção no local.
Venerável: Após uma pesquisa mais detalhada, a igreja local envia para Roma mais documentos que comprovem as virtudes do candidato. Depois de comprovados os atos heroicos, a pessoa recebe o título de venerável.
Beato: Para se tornar beato é preciso que um milagre tenha ocorrido com a intercessão do candidato. Nesta fase, uma junta científica e médica investiga minuciosamente os milagres atribuídos a ele. Se algum for confirmado, ele é beatificado.
Santo: Para finalmente ser declarado santo, é preciso que outro milagre, ocorrido após a beatificação, seja comprovado. Se isso acontecer, a Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano encaminha o processo para o Papa que encerra o processo e canoniza o novo santo.