Aqui estão 3 ingredientes essenciais para fazer da aposentadoria um modo de vida pleno e feliz
Aleteia / Marzena Devoud
“Eu não estava realmente pronto para me aposentar. Foi há alguns anos, eu tinha apenas 60 anos e sentia-me tão jovem… Estar aposentado era absurdo para mim. Sentia que mal estava no meio da minha vida”, diz Benoît, um antigo diretor de arte de uma editora de prestígio.
Durante vários meses após a sua aposentadoria, Benoît ficou seriamente deprimido: “Amava o meu trabalho, desenhar belos livros, criá-los com designers talentosos, fotógrafos e artistas gráficos; era a minha grande paixão. Não conseguia imaginar que tudo tivesse parado de repente. Além disso, senti-me em grande forma. Após o choque da aposentadoria, levei meses a organizar-me para voltar a trabalhar por mim próprio, para reconstruir a minha rede social, para gerir a minha vida quotidiana sem uma agenda completa… Mas para além desta convulsão, precisava sobretudo de encontrar recursos dentro de mim para dar sentido a esta nova etapa da minha vida. Sinto que isto é o mais importante, mas também o mais difícil”, admite ele.
Felizmente, a maioria dos aposentados hoje em dia terá mais tempo. O aumento da expectativa de vida – 85 anos para as mulheres e 79 anos para os homens – significa que hoje em dia cada aposentado pode esperar viver entre 15 e 25 anos. “Os fatos estão aí: no passado, foram identificadas três fases da vida: infância, vida adulta e velhice. Hoje em dia, são quatro. O período que costumava ser considerado como o início do fim da vida é agora um período de vida por direito próprio”, analisa Catherine Decout e Gwanaël Demont do Movimento Cristão dos Aposentados (MCR) no seu livro “La retraite, un temps à savourer” (Ed. Mame).
Como podemos então encontrar os recursos para viver esta etapa da vida em paz, que pode durar duas décadas ou mais? Como podemos dar-lhe sentido e sabor para criar uma nova arte de viver? Baseando-se em milhares de testemunhos de membros do movimento e nos seus próprios conhecimentos, os autores do livro revelam três ingredientes indispensáveis para viver ao máximo o tempo de aposentadoria: confiança para cultivar a sabedoria, paciência para viver o tempo de forma diferente e perseverança para ser dono da própria vida. Todos os três são ainda mais poderosos se forem alimentados pela vida espiritual.
1 – CONFIANÇA PARA MANTER OS MEDOS AFASTADOS
Se a vida interior permite afastar os medos sobre a própria vida, sobre a morte, sobre o mundo, ela não é uma venda, mas uma conversão da inteligência, do olhar e do coração para encontrar uma vida feliz. Esta capacidade de recorrer à força interior pode permitir à pessoa encontrar significado naquilo que está a experimentar ou já experimentou. É nesta intimidade, explicar Catherine Decout e Gwanaël Demont, que “a experiência, a memória de uma vida pode ser revisitada sem ser apagada: este reprocessamento é uma condição para não ficar atolado, evitando fechar-se num passado imaginário que correria o risco de imobilizar arrependimentos estéreis”. Reciclar o passado desta forma, fazendo um balanço das coisas boas realizadas e das dificuldades suportadas, facilita o regresso a uma vida mais conscientemente vivida. Esta atitude de abertura a tudo o que vem, tanto previsível como imprevisível – novos encontros, novas atividades, novos ambientes – constrói confiança e mantém os medos afastados.
2 – PACIÊNCIA PARA ENCARAR A MUDANÇA DA NOÇÃO DE TEMPO
A noção de tempo muda de acordo com a idade e a expectativa de vida. Também assume cores diferentes de acordo com os sentimentos de cada pessoa entre o inexorável vôo do tempo e a urgência de viver no momento presente para agarrar a felicidade que passa. Para viver harmoniosamente a sua aposentadoria, é importante passar para outro tempo: o tempo de Deus. “Este caminho é percorrido concebendo a própria vida de forma diferente no tempo, a fim de abordar uma forma de eternidade”, explicam os autores do livro. Aqueles que cultivam a paciência criam espaço e tempo para novas relações. O amor, a ternura e a amizade levam tempo.
Segundo John Tauler, um dominicano, teólogo e místico que viveu no século XIV, citado no livro, o tempo da contemplação “alarga” a presença no mundo. Isto significa que permite ser “apanhado inteiramente no que se contempla, e tudo o que se pensa, sente, imagina…” O tempo então já não conta quando se contempla uma paisagem, um quadro, um ramo de flores ou o neto adormecido na cama. Este tempo de contemplação toca a eternidade e traz realização real. A ser praticado sem moderação!
3 – PERSEVERANÇA PARA SERVIR OS OUTROS
Se o cultivo da vida interior é essencial para uma abordagem serena da aposentadoria, as ligações com os outros são também importantes: são vitais. A começar pelas horas passadas a brincar com os próprios netos, quando era impossível fazer o mesmo com os próprios filhos devido à falta de tempo! Mas não se trata apenas de desfrutar de momentos úteis e agradáveis ou de fortalecer os laços com a família e amigos. Para fazer da vida de aposentado uma arte, Catherine Decout e Gwanaël Demont aconselham que se envolva com os outros. Ajudar, apoiar e acompanhar outros através de uma associação ou um movimento pode dar alimento tangível a uma vida espiritual mais rica e encarnada. A perseverança é a chave do sucesso. Mas não é uma questão de sucesso no sentido de obter um resultado, mas no sentido de ser um mestre de serviço à imagem de Jesus:
Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros.
(Jo 13, 12-14)
Com este gesto sem precedentes, Jesus inspira-nos a cultivar a perseverança e a vontade de dar felicidade aos que nos cercam e aos outros.