Nossa Senhora dos Anjos: Rainha dos céus e soberana Senhora dos Anjos

Nossa Senhora dos Anjos: o perdão de Assis

Rachel Lopes – Jornalista – MTB 35.001/RJ (Pascom) / Foto: Google

No calendário litúrgico franciscano, o dia 2 de agosto é dedicado à Nossa Senhora dos Anjos, também conhecida como Nossa Senhora da Porciúncula, considerada uma importante data para toda a família franciscana, pois era a santa de devoção de São Francisco de Assis.

A majestosa Basílica de Santa Maria dos Anjos, localizada em Assis, na Itália, abriga no seu interior a pequena Capela da Porciúncula, local onde Francisco confirmou a sua vocação em uma noite do ano 1216.

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O nome de Santa Maria dos Anjos provém da tradição de que, naquela pequena Capela – construída por quatro peregrinos que retornavam da Terra Santa – era venerado um fragmento do túmulo da Virgem Maria, e que sempre se ouvia no local o canto dos anjos. Foi também nesta pequena Capela, que recebeu o nome de Porciúncula, isto é, pequena porção, que São Francisco recebeu a indulgência do “Perdão de Assis”.

Nesta data, denominada “Perdão de Assis”, é enorme a afluência de fiéis à Basílica da Porciúncula e a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora dos Anjos.

Esta festa é uma das mais importantes, ainda hoje, da família franciscana, pois foi estendida, mais tarde, pelo Papa Sisto IV, a todas as igrejas.

Então, somos todos beneficiados pelo “Perdão de Assis” ou “Dia do Perdão”, para tanto, devemos fazer uma boa confissão, participar da Eucaristia, e, entrando em uma igreja franciscana, rezar pelo Santo Padre, o Papa.

Louvemos ao Senhor que fez nascer o pai São Francisco, que revolucionou, com sua ordem, a Igreja, sem precisar abandoná-la ou fundar outra.

Indulgência

O perdão de Assis, ou a indulgência da Porciúncula, assim conhecida é um grande dom obtido por Francisco, um dom que é um presente também para cada um de nós: o da indulgência plenária. Através das indulgências o Papa e os Bispos colocam a disposição dos fiéis um tesouro da misericórdia de Deus manifestada ao mundo pela Paixão e Morte de Jesus Cristo, que na Páscoa realizou a plena reconciliação.

“Augusta Rainha dos céus e soberana Senhora dos Anjos,

Que recebeste de Deus o poder e a missão

De esmagar a cabeça de Satanás,

Nós vos pedimos humildemente:

Enviai as legiões celestes para que, sob

Vossas ordens persigam os demônio;

Combatam-nos em toda a parte, reprimam

A sua audácia e os precipitem no abismo.

Quem é com Deus?

Santos, anjos e arcanjos,

Protegei-nos, defendei-nos!

Ó boa e terna Mãe, vós sereis sempre

O nosso amor e a nossa esperança!

Ó divina mãe, enviai os vossos anjos,

Para que nos defendam e afastem de nós

O cruel inimigo!

Assim seja!”(Papa Leão XIII).

Paz e Bem!

O testemunho das Fontes Franciscanas

Diversos textos, das assim chamadas “fontes franciscanas”, falam do sentido e do valor que este lugar passou a ter na vida de São Francisco, e posteriormente considerado “cabeça e mãe dos Frades Menores”.

“Vendo o bem-aventurado Francisco que o Senhor queria aumentar o número de seus frades, disse-lhes um dia: ‘Caríssimos irmãos e meus filhinhos, vejo que o Senhor quer fazer crescer a nossa família. Parece-me que seria prudente e próprio de religiosos irmos pedir ao Senhor Bispo ou aos cônegos de S. Rufino ou ao abade do mosteiro de São Bento uma igreja pequena e pobre onde os frades posssam recitar as horas e, ao lado, uma casa pequena e pobre, de barro e de vimes, onde os frades possam descansar e fazer o que lhes for necessário. O lugar que agora habitamos já não é conveniente e a casa é exígua demais para nos abrigar, visto que aprouve ao Senhor multiplicar-nos. Foi então apresentar ao bispo o seu pedido, que lhe respondeu assim: “Irmão, não tenho igreja para vos dar”. Dirigiu-se em seguida aos cônegos de S. Rufino. Estes deram-lhe a mesma resposta. Foi dali ao mosteiro de São Bento do Monte Subásio. Falou ao abade como fizera ao bispo e aos cônegos, relatando-lhe a resposta que deles obtivera. O abade compadecido, depois de se aconselhar com os seus monges, resolveu com eles, como foi da vontade de Deus, entregar ao bem-aventurado Francisco e seus frades a igreja de Santa Maria da Porciúncula, a mais pobre que eles possuiam. Para o bem-aventurado Francisco era tudo quanto de há muito desejava. … Não cabia em si de contente, com o benefício recebido: porque a igreja era dedicada à Mãe de Cristo; porque era muito pobre; e também pelo nome que era conhecida. Era com efeito chamada de Porciúncula, presságio seguro de que viria a ser cabeça e mãe dos pobres frades menores. O nome de Porciúncula tinha sido dado a esta igreja por ter sido construída numa porção acanhada de terreno que de há muito assim era chamada” (Legenda Perusina, cap. 8).

“Depois que o santo de Deus trocou de hábito e acabou de reparar a Igreja de São Damião, mudou-se para outro lugar próximo da cidade de Assis, … chamado Porciúncula, onde havia uma antiga igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, mas estava abandonada e nesse tempo não era cuidada por ninguém. Quando o santo de Deus a viu tão arruinada, entristeceu-se porque tinha grande devoção para com a Mãe de toda bondade, e passou a morar ali habitualmente. No tempo em que a reformou, estava no terceiro ano de sua conversão” ( T.Celano, Vida I, cap. 9,21).

“Embora o Seráfico Pai soubesse que o reino dos céus é estabelecido em todos os lugares da terra… sabia, no entanto, por experiência, que Santa Maria dos Anjos havia sido contemplada com bençãos especiais… Por isso recomendava sempre os frades: ‘Meus filhos, tende cuidado de jamais abandonar este lugar. Se vos expulsarem por uma porta, entrai pela outra. Este lugar é sagrado, morada de Cristo e da Virgem Maria, sua bendita Mãe. Aqui, quando éramos apenas um pequeno número, o bom Deus nos multiplicou. Aqui ele iluminou a alma destes pequeninos com a luz de sua sabedoria, abrasou a nossa alma com o fogo de seu amor” (Espelho da Perfeição, cap. 83).

“Neste tempo nasceu a Ordem dos Frades Menores, multidão de homens que, então, começou a seguir o exemplo do Seráfico Pai. Clara, esposa de Cristo, recebeu nesta igreja a tonsura, despojando-se das pompas do mundo para seguir a Cristo. Aqui, para Cristo, a Santa Virgem Maria gerou os frades e as Pobres Damas, e, por meio deles, deu Cristo ao mundo. Aqui, estrada larga do mundo antigo tornou-se estreita e a coragem dos que foram chamados tornou-se maior. Aqui foi composta a Regra, a santa pobreza foi reabilitada, a vaidade humilhada e a cruz alçada às alturas. Se algumas vezes o Seráfico Pai sentiu-se conturbado e aflito, neste lugar reanimou-se, o seu espírito recuperou a paz interior. Aqui desaparece toda a dúvida. Por fim, aqui se concede aos homens tudo que o pai pediu por eles” (Espelho da Perfeição, cap. 84).

Como São Francisco recebeu a indulgência da Porciúncula

Segundo o testemunho de Bartolomeu de Pisa, a origem da Indulgência da Porciúncula deu-se  assim:

Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor.

Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

O Senhor lhe disse: “Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho, portanto, o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (Papa)”. E imediatamente, Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusia e com candura lhe narrou a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: “Por quanto anos queres esta indulgência”? Francisco, destacadamente respondeu-lhe: “Pai santo, não peço por anos, mas por almas”.

E feliz, se dirigiu à porta, mas o Pontífice o reconvocou: “Como, não queres nenhum documento”? E Francisco respondeu-lhe: “Santo Pai, de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas”.

E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: “Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!”

Oração

Ó Nossa Senhora dos Anjos, na pequena Igreja da Porciúncula, São Francisco recebeu as vossas bênçãos generosas juntamente com sua Ordem.

Ele depositara na vossa presença materna uma grande confiança e devoção, sendo atendido em seus pedidos. Continuai a dispensar os vossos favores sobre nós e sobre nossas necessidades particulares.

Nós vos suplicamos, dai-nos a graça da penitência dos pecados, a correção de nossas más inclinações e fortalecimento nos momentos de fraqueza. Quantos recusam a salvação e preferem caminhar nas trevas do erro! Tudo é possível para aquele que crer, para aquele que se arrepender!

Vós, ó Mãe, manifestastes a São Francisco o grande desejo de reconciliar os pecadores com Jesus, que se entregou em uma cruz para nos salvar. Rogai por nós, agora e na hora de nossa morte. Por isso, com todos os anjos do céu, vos saudamos: Ave Maria…

Condições para a Indulgência Plenária da Porciúncula

No dia 02 de agosto de cada ano (das 12h do dia 1º de agosto até as 24h do dia 2), pode se adquirir a Indulgência Plenária, com as seguintes condições:

Visitando uma igreja franciscana, onde se reza o Pai-nosso e o Credo, a Confissão e a Comunhão eucarística e a oração na intenção do Papa. A indulgência só pode ser lucrada uma vez para si, ou para os defuntos.

Os que visitarem a Igreja da Porciúncula, em Assis, na Itália, podem receber a mesma graça durante todo o ano, conforme um especial decreto da Penitenciaria Apostólica  datado em 15 de julho 1988 (Portiuncolae sacrae aedes).

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