Frades Capuchinhos em luto pelo falecimento de Frei José Corteletti

Tido como um frade de muita vitalidade e disponibilidade em sua Fraternidade, gostava de celebrar a missa, sobretudo nas capelas do interior, na zona rural

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No painel fotográfico, os vários momentos na vida de Frei José Corteletti

Por Emilton Rocha * / Pascom

“É com pesar, que a ESFA (Escola São Francisco de Assis) se despede do nosso querido líder humanístico e irmão franciscano, Frei José Corteletti. Quem o tinha por perto, teve a honra de aprender sobre a humildade, alegria e coragem de enfrentar as adversidades da vida com fé e sabedoria. A ESFA, parte de um dos seus sonhos, teve o privilégio de ser guiada pelas suas mãos durante um percurso da sua história. Homem de sorriso fácil, de alma branda e de atitudes fortes, religioso que fez das ‘vestes’ franciscanas a sua morada da Paz e do Bem, a sua bandeira espiritual. Certos de que o seu legado estará sempre entre nós, nos despedimos com o acalento de um dia nos encontrarmos. Abraços fraternos aos seus confrades, que com certeza, já sentem a sua ausência.”

Com a nota de pesar acima, divulgada na quarta-feira, 11, a Província Nossa Senhora dos Anjos comunicava o falecimento do querido Frei José Corteletti, ocorrido pela manhã. Um homem muito dedicado em seu ministério e em sua vocação religiosa franciscana e capuchinha.

Nascido em Santa Teresa (ES), em 16 de outubro de 1934, Antônio Ângelo Corteletti, o Frei José, foi admitido no Postulado em 1946, na mesma cidade. Seis anos depois ingressava no Noviciado, em Taubaté (SP), onde realizou a sua Primeira Profissão Religiosa em 24 de dezembro de 1953, pelas mãos do Ministro Geral da Ordem, frei Benigno Milanese. A sua Profissão Solene deu-se no ano de 1956, em Itambacuri-MG, o Diaconato no ano de 1959, em Belo Horizonte, e o Presbiterato naquele mesmo ano, na cidade do Rio de Janeiro.

Estudou Filosofia e Teologia em Itambacuri e Belo Horizonte. Cursou Teologia Pastoral com os franciscanos no Rio de Janeiro, formando-se também em Letras Clássicas e Realismo Social e Sociologia, em Roma, Itália. Por mais de trinta anos Frei José dedicou-se à educação. Foi professor nas seguintes instituições de ensino: Instituto Padre Leornado Carrescia, na Tijuca (RJ).

Na travessia encontrei muitos doentes (e até fui um deles). Ser levita ou samaritano? Titubeei e até fui comodista. Quanta satisfação em servir, pois veio o agradecimento nascido como o lótus no coração humilde.”

No Espírito Santo, lecionou no Colégio Estadual João XXIII, em Barra de São Francisco; na Faculdade de Filosofia de Colatina; em Santa Teresa, no Seminário e Educandário Seráfico São Francisco de Assis; no Colégio e Escola Normal Teresense; no Instituto Capixaba de Tecnologia e na Escola Agrotécnica de Santa Teresa. Também atuou como professor nos colégios Estadual e Castro Alves, em Mantena (MG). Em algumas dessas instituições não apenas lecionou, como também exerceu a função de diretor.

Muito dedicado em seu ministério e em sua vocação religiosa franciscana e capuchinha, Frei José foi eleito Primeiro Conselheiro da Vice Província do Rio de Janeiro e Espírito Santo, na década de 1970. Desempenhou os ofícios de Ecônomo da Fraternidade, Guardião, Arquivista local e Vigário Paroquial. Morou na Província de Siracusa, Itália, nos anos 1990, trabalhando e ajudando pastoralmente a Província mãe. Em 2007 foi solicitado pela Ordem, para ajudar nos atendimentos e confissões no Santuário de São Frei Pio de Pietrelcina, em San Giovanni Rotondo, Itália.

Tido como um frade de muita vitalidade e disponibilidade em sua Fraternidade, gostava de celebrar a missa, sobretudo nas capelas do interior, na zona rural. Nos últimos anos de sua vida, frei José residiu em sua cidade natal, tratando da saúde. Sentia muitas dores, mas não era de reclamar. Celebrou a santa missa até pouco antes de ser internado com o diagnóstico de câncer. O seu estado de saúde se agravou rapidamente devido à metástase por todo o corpo.

Frei José foi muito bem acompanhado e assistido pela sua Fraternidade e por familiares. Tudo o que foi possível fazer, foi feito. Nas primeiras horas deste 11 de dezembro, já muito fragilizado, sedado, alimentando e respirando com ajuda de aparelhos, frei José realizou a sua páscoa definitiva. Deus deu ao nosso irmão, o descanso e a verdadeira paz!

O sepultamento foi realizado nesta quarta-feira, na parte da tarde.

frei corteletti

Minha travessia

Por Frei José Corteletti

Meu grito de choro ao nascer até meu silêncio frio da morte que se avizinha: o fim… mas não “o fim do fim”. Daqui o salto para o IMUTÁVEL, o BOM. Este sim é o fim do fim. Momentos de trevas, lusco-fusco das incertezas até à barreira da limitação humana buscando a LUZ. O choro da primeira fome (mamei) até enxugar a última gota gelada do suor na face fria, o salto para a ETERNIDADE.

Na travessia encontrei muitos doentes (e até fui um deles). Ser levita ou samaritano? Titubeei e até fui comodista. Quanta satisfação em servir, pois veio o agradecimento nascido como o lótus no coração humilde. Deu-me muita força; porém quantas desilusões vindas do “leproso” que não voltou para agradecer. É um sentimento humano. Quanta dureza, quanta maldade, quanta tentativa e luta… Mas tudo se tornava mais fácil quando o sofrimento me levava para os braços de “Mãe-Pai Deus”. “Deixai que o Espírito Santo te dirá…”

Por outro lado, fui o reverso da medalha: papai, mamãe, irmãos – companheiros de estrada – vos ofendi muitas vezes e de mil maneiras (não segui vossa vontade, Pai): Da arrogância à indiferença. Do desleixo à irresponsabilidade. Da tentação à execução, etc… etc… etc… Mas sabe de uma coisa?  \“Eu vim para vós, pecadores\”. Eu creio e confio em vós, meu Deus. “Este é meu cálice… este pão é meu corpo… Fazei tudo isto em memória de mim”.

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* Com informações de Frei Edcarlos Hoffman.

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